Li algures por estes dias que “21 Poetas Suecos” (Vega), tradução colectiva com coordenação de Ana Hatherly e Vasco Graça Moura, iria ser reeditado. Seria uma boa ideia. Podem encontrar-se nessa antologia vários poemas (e poetas) suecos muito interessantes, entre eles Gunnar Ekelöf, Margareta Ekström, Lasse Söderberg, Tomas Tranströmer, e muitos outros.
WERNER ASPENSTRÖM (1918 – 1997), nasceu em Norrbärke e foi membro da Academia Sueca, ocupando a cadeira n.º 12, de 1981 a 1997. Aspenström dizia frequentemente que a sua motivação para escrever era fazê-lo para o seu gato.
TU E EU E O MUNDO
Não perguntes quem tu és e quem eu sou
e porque tudo é.
Deixa os professores tratarem disso,
pois são pagos.
Põe a balança da casa sobre a mesa
e deixa a realidade pesar-se.
Põe o casaco.
Apaga a luz da entrada.
Fecha a porta.
Que os mortos embalsamem os mortos.
Estamos a andar aqui, agora.
O que usa botas de borracha brancas
és tu.
O que usa botas de borracha pretas
sou eu.
E a chuva que cai sobre nós ambos
é a chuva.
Tradução de Vasco Graça Moura
§
LARS FORSSELL (1928 – 2007) foi igualmente membro da Academia Sueca. Poeta e dramaturgo muito premiado, nasceu e morreu em Estocolmo. Foi jornalista cultural em diversos orgãos de comunicação suecos, sendo muito popular no seu país devido a uma outra vertente artística que cultivava: a de escritor de canções.
Eu queria escrever mas
porque é que se tem de organizar tudo
tão exactamente
As coisas não são tão rigorosas
A estrada do tinteiro à página
é comprida demais e além disso
é preciso segurar a pena de uma
maneira especial como eu fazia quando tinha seis anos e
a lingua pousava no – era o canto esquerdo
da boca ? e eu aprendi tudo o que
quer que foi
que eu aprendi
Agora aprendi algo diferente
Despejo o tinteiro no papel
Dá uma imagem do que eu quero dizer
Dá uma imagem perfeitamente clara
de tudo o que aprendi
Tradução de Vasco Graça Moura
§INGEMAR LECKIUS (1928 – 2011) nasceu em Kristianstad (como Ingemar Gustafson). Foi poeta, ficcionista e tradutor.
VIDA DE FAMÍLIA (I)
Durante as longas e chuvosas noites de inverno quando o vento uiva lá fora, minha mulher e eu jogamos às cartas. Jogamos em completo silêncio com os nossos corpos por aposta.
Mais ou menos meia hora depois, considero que já perdi o suficiente e levanto-me dizendo calmamente: «Não joguemos mais. Já não tenho mais nada a apostar. Já perdi todo o exterior do meu corpo». O interior quero guardá-lo.
Mas a minha mulher nunca consente isso. Ameaçadoramente obriga-me a continuar o jogo. E só paramos de jogar quando eu perco o meu corpo todo. Só as minhas doenças – dores de cabeça, constipações e todas as minhas febres – ficam do meu lado da mesa. Essas noites são de facto bastante tristes.
Tradução de Ana Hatherly
WERNER ASPENSTRÖM (1918 – 1997), nasceu em Norrbärke e foi membro da Academia Sueca, ocupando a cadeira n.º 12, de 1981 a 1997. Aspenström dizia frequentemente que a sua motivação para escrever era fazê-lo para o seu gato.
TU E EU E O MUNDO
Não perguntes quem tu és e quem eu sou
e porque tudo é.
Deixa os professores tratarem disso,
pois são pagos.
Põe a balança da casa sobre a mesa
e deixa a realidade pesar-se.
Põe o casaco.
Apaga a luz da entrada.
Fecha a porta.
Que os mortos embalsamem os mortos.
Estamos a andar aqui, agora.
O que usa botas de borracha brancas
és tu.
O que usa botas de borracha pretas
sou eu.
E a chuva que cai sobre nós ambos
é a chuva.
Tradução de Vasco Graça Moura
§
LARS FORSSELL (1928 – 2007) foi igualmente membro da Academia Sueca. Poeta e dramaturgo muito premiado, nasceu e morreu em Estocolmo. Foi jornalista cultural em diversos orgãos de comunicação suecos, sendo muito popular no seu país devido a uma outra vertente artística que cultivava: a de escritor de canções.
Eu queria escrever mas
porque é que se tem de organizar tudo
tão exactamente
As coisas não são tão rigorosas
A estrada do tinteiro à página
é comprida demais e além disso
é preciso segurar a pena de uma
maneira especial como eu fazia quando tinha seis anos e
a lingua pousava no – era o canto esquerdo
da boca ? e eu aprendi tudo o que
quer que foi
que eu aprendi
Agora aprendi algo diferente
Despejo o tinteiro no papel
Dá uma imagem do que eu quero dizer
Dá uma imagem perfeitamente clara
de tudo o que aprendi
Tradução de Vasco Graça Moura
§INGEMAR LECKIUS (1928 – 2011) nasceu em Kristianstad (como Ingemar Gustafson). Foi poeta, ficcionista e tradutor.
VIDA DE FAMÍLIA (I)
Durante as longas e chuvosas noites de inverno quando o vento uiva lá fora, minha mulher e eu jogamos às cartas. Jogamos em completo silêncio com os nossos corpos por aposta.
Mais ou menos meia hora depois, considero que já perdi o suficiente e levanto-me dizendo calmamente: «Não joguemos mais. Já não tenho mais nada a apostar. Já perdi todo o exterior do meu corpo». O interior quero guardá-lo.
Mas a minha mulher nunca consente isso. Ameaçadoramente obriga-me a continuar o jogo. E só paramos de jogar quando eu perco o meu corpo todo. Só as minhas doenças – dores de cabeça, constipações e todas as minhas febres – ficam do meu lado da mesa. Essas noites são de facto bastante tristes.
Tradução de Ana Hatherly
2 comentários:
EXCELENTE IDEIA - POR ACASO EU TENHO ESSA ANTOLOGIA E DIGO também QUE VALE SER REEDITADA.
Mto bonitos os poemas de TT, e gostei muito do q se apresenta de WERNER ASPENSTRÖM.
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