domingo, agosto 16, 2009

MARGARETA EKSTRÖM

MARGARETA EKSTRÖM nasceu em 1930 em Estocolmo. Poeta, critica, cronista, é mais conhecida porém como ficcionista de histórias curtas, algumas das quais traduzidas em diversos países. Mãe da poeta Johanna Ekström (Estocolmo, 1970), a sua poesia é marcada por uma atenção feliz às pequenas coisas, à ternura, à fragilidade humana, num frágil equilibrio que revela o nosso medo de viver. Os poemas que se seguem são versões minhas traduzidas do inglês e retiradas do livro “To catch Life Anew – 10 swedish women poets” (tradução do sueco de Eva Claeson), Oyster River (Durham, New Hampshire, 2006).



PARA USO DIÁRIO

Se a vida não fosse tão insubstituível
talvez ousássemos utilizá-la.
Porém arrumamo-la na prateleira
como um vistoso par de sapatos
que é bonito de se ver
mas não para uso diário.
Assim, continuamos por aí sentados
numa expectativa descalça.



§



CANÇÃO DA FORMIGA


Na compota de framboesa
da firma respeitada
jazia uma formiga.
Fiquei tão agradada:
uma formiga, uma verdadeira formiga,
uma formiga não listada nos "ingredientes"
a provar que existe verão.

Lá fora, a névoa do árctico caí espessa.
Cá dentro, uma formiga deitada no meu prato
como que fechada em âmbar.

As idades encontram-se.
Os espaços colidem.
Tempo da framboesa e espaço da framboesa
com o tempo do jornal e o espaço do pequeno-almoço.
E o tempo da formiga,
tão piedosamente contrariado pela compota
veio aterrar
num jarro.

Nem mesmo o Museu Nacional de História Natural
nos consegue surpreender tanto!



§



O FUNERAL


Na noite do funeral
eles abraçaram-me,
beijaram-me, mesmo esses
que habitualmente não beijam.
Apoiaram-me e perguntaram
se precisava de soporíferos,
estimulantes,
um xerez ou companhia para a noite.

Cada noite é um funeral
mas ninguém vem para me abraçar.
Ninguém pergunta como as coisas vão
se preciso de companhia para a noite,
um xerez, um soporífero.

Porque é apenas um dia como tantos
que morreu, e todos
temos que gerir isso o melhor que pudermos.


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