quarta-feira, março 22, 2006

A MINHA LISTA DE COMPRAS É POESIA ?


Relendo os comentários - os menos acirrados - que aqui foram deixados durante a recente polémica que se criou neste blogue, apercebo-me de como a esmagadora maioria das visitas discordam veementemente dos exemplos que citei como sendo poemas, e mais, como sendo bons poemas. A palavra foi que “aquilonão era poesia. E no entanto, não me consigo sentir derrotado e apetece-me insistir - sem teimosia, acreditem, mas com profundo respeito por quem por aqui vai perdendo o seu tempo - que aqueles textos são... poemas, e se revelarão muito importantes no nada importante contexto da poesia portuguesa contemporânea. Com as devidas diferenças - com as devidas diferenças, repito - dêmos um salto até à pintura e gastemos um minuto com alguns dos bons exemplos da história da pintura contemporânea. Na primeira década do Séc. XX, Braque e Picasso decidiram pintar o mundo com formas quadradas: violas, tradicionalmente representadas com linhas curvas, foram então traduzidas por linhas rectas. Malevich, por seu turno, chamou "arte pura" a um quadrado preto pintado sobre tela... E Duchamp, uma década depois – como bem notou Jorge Melícias – denominou de “Fonte” um urinol, ainda por cima produzido em série e por outrem. O - já famoso por aqui - sobrinho de Herculano Lage – e digo-o sem ironia – bem poderia ter pintado qualquer um dos quadros tardios de Pollock, mais não fosse por acidente: fios de tinta caindo aleatoriamente pela tela disposta pelo chão. E no entanto, é extremamente interessante tentar imaginar qual terá sido a reacção que, maioritariamente, aquelas obras terão provocado à altura, ainda que hoje possam passar por mais ou menos consensuais. A pergunta, então, é a seguinte: o que faz com que determinada obra, actualmente tida como consensual, possa ter sido vista no seu tempo como um insulto à arte? A segunda pergunta resulta da primeira: que resistências são essas que se opõem à evolução e ao desenvolvimento de uma determinada disciplina artística? Terceira dúvida: como desenvolver em cada um de nós - em tempo real, contemporâneo, – uma eficaz percepção do valor artistico de cada obra de arte que nos é dado presenciar como novidade? O Tempo - o passar do tempo - é uma das respostas mais óbvias, tão óbvia quanto inútil, porque tardia. Então, como? Por um apurado conhecimento da história de cada uma dessas disciplinas e suas sucessivas rupturas? Mas, e se a excelência dessa obra não tiver passado por uma ruptura, por uma vanguarda? Por uma extraordinária capacidade de perceber o seu tempo? Pela identificação da originalidade entre o comum? Por uma qualquer ética ou estética? Por ser perfeita? Porque, simplesmente, gostamos dela? Regressemos então - sem comparações, por favor - a esse universo pequeno e dispensável que é a poesia e deixando de lado o polémico "Martha" de Manuel de Freitas (Vale de Santarém, 1972), atentemos ao outro poema que referi, de Jorge Gomes Miranda (Porto, 1965), aqui na sua versão completa:


QUATRO MENSAGENS DEIXADAS NO TELEMÒVEL

“Dr_______________
Muito bom dia, é com alegria que o informo que,
num sorteio realizado esta manhã, foi o feliz
contemplado com um serviço de jantar
de 32 peças.
Só terá de ter a maçada de o vir buscar esta noite
pelas 20 horas ao Hotel Ipanema.”

#

“Porra, J_______________,
tens sempre o telemóvel desligado
quando preciso de ti.
Fiz asneira outra vez e a__________
saiu de casa com os miúdos.
Vê se me telefonas ainda hoje.”

#

“Olá, sou eu (silêncio)
Quero dizer (silêncio)
Tudo o que quero dizer, (silêncio)
Não sei (silêncio)
Tudo o que quero dizer levaria
mais tempo do que aquele que tenho
aqui.
Mas há coisas que não queremos ouvir
(silêncio).”

#

“Fala do Laboratório de Análises Clínicas,
Tenho aqui nas mãos o envelope
com o resultado das suas análises.
Quer que o envie por correio ou
passará por cá para buscá-las?
Informe-me da sua decisão.”



Não queria de modo algum limitar a discussão que se seguirá à estafada dicotomia Forma/Conteúdo. Mas a verdade é que a Forma em questão – será ao menos isto consensual? – é a de um poema: existe um título, existem estrofes onde os versos se dobram pela técnica do enjambement, existem pausas e silêncios brancos, e existe - notem bem - todo um programa para o poema que o torna próximo, na sua diversidade de exemplos, das técnicas de colagem e de montagem cinematográfica à maneira, por exemplo, de certas instalações de vídeo. Não estou ainda a discutir a oportunidade cronológica do poema quando comparado com a poesia internacional. Limito-me a tentar provar porque razão o texto em questão é... poesia. Consigo, todavia, entender que será no Conteúdo que o verniz estala. Ora é precisamente aí que me parece que Jorge Gomes Miranda – cuja obra poética está muito longe de se resumir a este “tipo” de poemas, façamos-lhe justiça – opera o tal trabalho de linguagem essencial a "isso" a que chamamos poema. Senão vejamos: as situações esboçadas nos diversos momentos do texto são intrinsecamente contemporâneas: num primeiro momento, desenha-se um apelo directo ao consumo, tão comercial quanto enganador, à maneira dos vendedores de time sharing, uma das pragas modernas do consumo; nos segundo e terceiro momentos, duas situações distintas de relações interpessoais - nem por isso felizes como compete à celeridade e desengano dos tempos modernos, - esboçam uma ameaça de divórcio e um profundo desencontro amoroso ; no quatro e último momento, é clara a intenção de sugerir uma situação dúbia de saúde. Cada um dos leitores vê-se assim tentado – confessem lá… - a esboçar o fio de uma narrativa que possa unir estes quatro momentos e que permita chegar "à história toda” da vida (urbana?) da persona literária a quem Jorge Gomes Miranda decidiu atribuir a propriedade daquele telemóvel. Um bom exercício de interpretação para cada leitor. Isto não elimina ou anula qualquer outro género de poesia. Apenas acrescenta. Mas as “vagas” semelhanças "disto" com um poema não se esgotam por aqui. Além da linguagem – coloquial, é certo, mas também tensa, elíptica e fortemente alusiva – e da interpretação, o texto tem também - hellás! - mistério, tão do agrado da vontade críptica caracteristica da poesia: o tipo será médico ou advogado? Economista ou "dr"? Dr. J. é, ficamos depois a saber. Mas quem seria o seu amigo e o que terá feito à mulher? Uma facadita no matrimónio? Que capacidade terá o Dr. J. para dar conselhos amorosos se ele próprio experimenta as suas próprias dificuldades? E porque terá feito análises ao sangue? Sentir-se-ía doente? Num contexto amoroso atribulado, será licito supôr que possa estar infectado com o HIV? Alguns continuarão a desgostar desde poema pela crua contemporaneidade que retrata, de tão horrível que ela é, porque é hiper-realista e reduz o mundo ao grau zero de lirismo. Eu revejo-me nela como leitor pela sua forma crua e hiper-realista de transportar a contemporaneidade que habito para a escrita. E um dia mais tarde, isso vai ser mais visível ainda. Quem quiser dizer alguma coisa, levante o dedo e fale na sua vez...


45 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro JLBG: orgulhoso estou, sim, do meu sobrinho, de 4 anos, ter patentado uns versos e poemas que, assáz, se tornaram já ícone des blogosfera. Vou-lhe perguntar como consegue versificar assim, em 3 ou 4 segundos, poemas tão belos e profundos como os conseguidos, ao fim de meses, por Melícias, Freitas, Mirandas, Pinto Rodrigues e afins. Mas vou-lhe perguntar também: QUERIDO SOBRINHO, TU ACHAS QUE ISSO É POESIA?? Ó meu deus!! Talvez ele me diga que se versos como os que o JLBG aqui põe intitulados de poesia sejam nada mais nada menos como os versos com que ele me inspira a todo o minuto. Ó MEUS CAROS: vamos ver se nos entendemos! caro JLBG: ponha verdadeira poesia!! ESPERAMOS MAIS!! MAIS!!! Temos de exigir mais!!! Coitado do Sena e do Pessoa que se devem tar a revolver ao ver frases destas sem sentido, tão primárias e débeis, como as que aqui coloca de Freitas E Mirandas e Rodrigues. POR FAVOR!! Olhe: quer outro verso?? Aqui vai, o meu sobrinho acaba de o fazer: "Rodas que cilindram o meu dia a dia, o leite ferve na caneca que desaba, o cão ladra, perdi o meu amor, já nem o telemóvel toca"; Outro: "Tensas são as noites ondulantes, parecem giestas de figuras que desvelam". POR FAVO!!!! Herculano Lage

João Luís Barreto Guimarães disse...

Herculano... desisto. Você ganhou.
Vou-lhe dar Pessoa e Sena na primeira oportunidade. Um abraço, J

Anónimo disse...

Tenho sérias dúvidas quanto à honestidade desses versos, ou seja, quanto à convicção pessoal com que foram feitos. Mais uma vez, tal como o "Martha", me parecem pose, como pose me parece aquele h, mesmo que a musa do minimal o tivesse no nome. Há gente que diz que ser-se poseur em poesia não tem mal nenhum, que não afecta a arte, que Pessoa foi, com os heterónimos, um poseur (isto digo eu). Mas enquanto Pessoa terá sido um poseur de si mesmo, e sequer principalmente na assunção da heteronímia, Jorge Gomes Miranda parece-me poseur por vontade subjectiva de alcançar a novidade a todo o custo. E ser-se inovador não depende de querê-lo, como sabe.

Diz que é poesia por causa das estrofes, dos cavalgamentos, de que só descobri dois e um bastante disfarçado, este:

Quer que o envie por correio ou
passará por cá para buscá-las


o outro é:

mais tempo do que aquele que tenho
aqui.


Mas se unir os versos todos em prosa, que fica? Nada.Uma linguagem propositadamente grosseira, descuidada, sem ritmo. Quando muito uma mera forma conceptual à procura do novo. Pode ser que a incapacidade seja minha, e se partilho a vontade de que a poesia deve ser entendida, já me custa admitir que uma poesia com esta honestidade possa ser comparada ao épater da pintura ou de qualquer outra arte de vanguardas passadas.

Quanto a Sena, raro é quem lhe faça justiça. E quantos, depois dele até hoje, lhe devem parte do realismo de que se reclamam, calando-o cuidadosamente. Que saiba, foi o primeiro poeta português a chamar a si a inteligibilidade da poesia, desde que ela começou a tornar-se críptica.

Espero que as coisas da hiper não afectem a sua poesia e a igualem à de todos os que nela militam. Seria uma pena (para quem o lê).

Anónimo disse...

Há uma coisa verdadeiramente espantosa na sua argumentação, JLBG; é que mesmo que v. esteja errado (talvez não, mas imaginemos que sim...) acaba por ter um usufruto muito maior e superior da experiência artística contemporânea do que aquele mais recalcitrante, pelo simples facto de que lhe faz sentido a própria atitude (o tal risco).

Esta pequena banalidade é exterior (se calhar...) ao objecto artístico, mas corresponde grosso modo aos referentes tradicionais/religiosos da arte mais aceite. Será que não foi um escândalo quando Álvaro de Campos imitou os sons industriais, os barulhos e os gritarias bêbedas? Será que não foi uma heresia quando Dürer (num estudo, é certo) desenhou apenas as voltas do manto de um profeta? Ou um coelho em toda a sua realidade?

Eu também não sou um "tudo vale" nas artes (até chego a ficar irritado com algumas coisas) mas, voltando a Dürer, creio que o tal "real" da arte está precisamente no valor do estudo, da experiência sintética do artista e (se lá chegar) do observador. A volta do manto define mais o quadro, a obra, do que o quadro em-si e torna tudo mais sublime. Como dizia Kant, esse retrógrado...

Vasco Pontes disse...

Vou só dizer: Se se tentar muito arduamente definir poesia, quase tudo pode ser considerado poesia. Não gosto, por isso, de definir "fronteiras" na poesia: Prefiro encontrar essências. Com a humildade de não poder considerar a minha opinião como definitiva, isto permite-me, primeiro, gostar ou não de um poema. E depois "sentir" , sentir com a sensibilidade do artesão e do artista, quando há intenção poética genuína num texto.O que é isto? Quero lá saber... explicar.
Basta-me saber. Tranquilamente.

Anónimo disse...

Vejo numa releitura da sua entrada que não respondi às suas perguntas. Agora tenho de sair, mas eu mesmo tenho sérias dúvidas quanto aos meus juízos acerca de poesia, ainda que adira com bastante facilidade ao carácter de estéticas contemporâneas noutras artes, como a música, as artes plásticas, alguns aspectos do teatro e do cinema, e ainda o teatro como texto, a arquitectura, a própria poesia visual feita em computador, com o Flash.

Sei, no entanto, que essa adesão, às vezes bem mais difícil, e quantas vezes muito mais repulsiva para outros que a da poesia, se baseia numa percepção estética, e então pergunto-me, comparando-me diante da absorção de que sou capaz diante dessas artes na sua forma inovadora, porque não serei capaz de absorver os exemplos que aponta?

Será porque estou mais "sujo" com poesia, desculpe-se-me o termo? Ou porque a poesia que aponta se tornou uma norma e uma tentativa de querer-se inovador, inovador no sentido de renascimento, como foi o próprio Renascimento e o Modernismo (os vários modernismos)? Que eu saiba, esta forma de abjeccionismo total, fazendo da não-estética a própria estética, só a vejo por cá, nós que importamos tudo, das laranjas às tendências e escolas. Enfim, não tenho certezas de nada sobre poesia. Esta não consigo absorvê-la como expressão do nosso tempo, ao contrário da música contemporânea (erudita), por exemplo, em que a adesão à sua linguagem é imediata, para só falar de música. Porque afinal é um problema de estética que se põe e não de assunto.

João Miguel Almeida disse...

Acho piada aos textos, mas prefiro lê-los como micro-contos ou micro-monólogos teatrais. Há duas questões diferentes: uma acerca do sentido dos textos e outra acerca dos géneros literários.
A forma gráfica em poema enfatiza o texto, mas o mesmo efeito podia ser obtido de outras formas: «bolds», itálicos...

Anónimo disse...

Depois de ler tanto o post como os comentários, dou comigo a pensar que estamos perante mais uma salutar polémica em torno do que é Literatura/Poesia/Arte e o que não o é. Em pano de fundo a sempiterna questão: quem e o quê definem a linha de fronteira?

A arte do século passado assistiu ao nascimento e à maturação da arte conceptual. A distância permite-nos compreender o que ela significou na origem e aquilo em que veio depois a transformar-se.

A "Arte" saiu dos museus e das academias e o "mercado" com o correlativo peso do "marchand" passaram também a influenciar a nossa visão do "fenómeno artístico".

A "palavra poética", perdoe-se-me a vulgata, para além da dimensão apofântica (criação, manifestação de algo...) é "comunicação". Donde, qualquer tentativa de demarcação entre o artístico e o não-artístico ser sempre tributária de um "protocolo" (aquilo que a comunidade dos letrados, poetas, artistas considera como merecedor do epíteto "poema"...).

Os exemplos de JLBG são felizes na medida em que nos permitem suscitar outras questões e trazer à colacção as "categorias estéticas" da "autenticidade" e da "intenção" artística.

Frank Zappa (in "The real Frank Zappa book/Frank Zappa, with Peter Occhiogrosso")coloca a questão em termos interessantes:

(...) "The most important thing in art is The Frame. For painting: literally; for other arts: figuratively -- because, without this humble appliance, you can't know where The Art stops and The Real World begins.

You have to put a 'box' around it because otherwise, what is that shit on the wall?

If John Cage, for instance, says, "I'm putting a contact microphone on my throat, and I'm going to drink carrot juice, and that's my composition," then his gurgling qualifies as his composition because he put a frame around it and said so. "Take it or leave it, I now will this to be music." After that it's a matter of taste. Without the frame-as-announced, it's a guy swallowing carrot juice.

So, if music is the best, what is music? Anything can be music, but it doesn't become music until someone wills it to be music, and the audience listening to it decides to perceive it as music(...).


Excelente blogue e não menos excelente polémica.

P.S.: ...abençoada precocidade...aos quatro anos...deve ser do caldo de cultura... :)

Anónimo disse...

Assumindo o meu fraco conhecimento de poesia, contribuo para o debate com a ingenuidade que ainda ninguém apresentou nestes comentários. Assim de longe, muito mais do que os entendidos, recebo cada poema como uma (tentativa de) comunicação do autor. Neste caso do poema de Jorge Gomes de Miranda, a primeira ideia é de que há quinze anos ele não poderia ter sido escrito. Em segundo lugar, noto que não há nada que estimule a minha imaginação de um modo particular (o amigos, as análises, a pessoa que não consegue dizer, a venda…), por isso viro-me para um outro aspecto, o da vida do personagem principal do poema, se assim se pode dizer, parecer toda condensada numa sequência de mensagens que se escuta de seguida, prêt-a-porter, embora vindas de sítios tão diferentes e gravadas em diversos momentos do(s) dia(s) .
Não discuto se é poema porque foi assim que o autor o apresentou. Basta-me isso para não ter o direito de o considerar de outra forma. Sinceramente não percebo como é que alguém pode contrapor qualquer outro poema ou estilo a um texto particular. Parece-me uma forma de ditadura e já temos tantas que não nos faz falta mais essa, a de tentar normalizar a forma como cada um decide apresentar o que pretende comunicar.
No contexto da troca de ideias, percebo a ideia de ser um risco porque apresenta algo de novo que não poderia ter sido escrito há quinze anos atrás. De questões técnicas nada percebo (não sei se feliz ou infelizmente) mas sei que este texto a que o autor chamou poema me comunica algo e, de certa forma, por ser supostamente ditado ao ouvido por uma máquina, acho-o belo de um modo frio e terrível. O autor mostra-me (lembra-me) que neste tempo em que vivo se carrega a vida e o registo das relações no bolso do casaco. Ao apresentar as palavras na forma de poema, usando um suporte tradicionalmente ligado à forma íntima como o ser humano se relaciona com o mundo, autor, dá-me ideia, quer dar-lhe o peso e a profundidade que um simples registo de prosa nunca poderia dar.

clarinda disse...

De facto, o poema completo permite outra leitura e pode ser que a razão esteja do seu lado. No entanto, enquanto leitora deste tipo de texto, sinto-me como se estivesse diante do ovo de Colombo, sem Colombo e sem América.

Sendo o quotidiano o mercado onde vamos com a nossa lista de compras, não é por enchermos o carrinho com os produtos da lista que temos o jantar pronto.

É isto que penso e agora que venham todas as teorias, os cânones, e tudo mais, não é por chocar ou incomodar que um poema é uma obra de arte.

Anónimo disse...

"A Minha Lista de Compras é Poesia?" ou atrever-me-ia a sugerir outro título: "O Guarda-Chuva Esventrado, que nesta Manhã de Temporal, vi abandonado na berma da estrada, é Poesia"? Para mim, era claramente um poema que se "oferecia", despojado, ao olhos de quem passava, escrito como se encontrava, por sobre a lama do passeio, digam o que disseram os entendidos das letras...Acredito, que se Jorge Colombo por ali andasse o teria "salvo" ou mesmo o teria, para sempre imortalizado numa das suas fotografias! E porque não, perguntar-lhe, se não acha, JLBG, que existem Fotografias-Poema? Será isto também escrever poesia?

Anónimo disse...

CARO RUI LAGE: não me dê os parabens a mim, mas ao meu sobrinho, de 4 anos, mais poeta, pois, que Miranda e Freitas - que não fazem poesia. ISSO não é poesia bolas!! Como disse alguem acima: e se juntarem as frases em prosa, que resulta? NADA?? nem uma ideia!!! Pois é certo que ganhei, caro JLBG, Herculano Lage

SG disse...

Para haver comunicação é peciso um emissor e um receptor (verdade de Lapalisse), mas o sucesso da comunicação depende fundamentalmente do receptor. Na minha opinião, há arte sempre que este recebe, descodifica e interioriza uma mensagem. Claro que a mensagem pode só interessá-lo a ele, e tudo ficou por ali, ou se esse código recebido interessa a mais alguém, o que leva o primeiro receptor a partilhá-lo com outro, e outro, e outro e assim por diante. Essa é a "Arte" dos "Meios Artísticos", das "Correntes Artísticas", dos negócios, dos investimentos, dos interesses, dos media. Ou não, pode ser apenas de um grupo fechado de pessoas que partilham esa mensagem que - segundo elas - os enriquece e os faz mais felizes.

O problema que está subjacente a esta polémica é outro: o de sabermos se uma das artes "clássicas" (literatura), com um dos seus géneros "clássicos" (a poesia) deve, ou não ter limites rígidos, fora dos quais as linhas escritas devem ser ignoradas, ostracizadas, desprezadas. Não me parece que as pessoas que agora mesmo se fartaram de bater nesses "poemas" diferentes sejam a favor da discriminação, seja ela qual for...
Por isso, este poemas são como aqueles muros de tijolo e outras instalações que vemos em Serralves: olhamos para eles e dizemos: "isto também eu fazia". Pois é, mas não fizeram, e por isso o artista está representado nessa exposição e nós não.
Um dia, no fim de uma conferência de Ruy Vieira Nery sobre Música Contemporânea (ruído, diriam muitos) eu perguntei-lhe o que era "Qualidade". Ele respondeu-me "É o que fica".
"Pois", retorqui, "Mas isso só saberemos depois, daqui a algum tempo.
Como sei, hoje, que o que acabou se ser feito é qualidade?".
Resposta; "Todas as sociedades têm que ter um conjunto de sábios que conhecem o passado e sabem prever o que vai ficar, ou não. Podemos começar porconhecer o que essas pessoas dizem".

Claro que não estou a propor que sigamos o que os "entendidos" dizem sobre os assuntos, mas será um bom princípio ouví-los, nem que seja para formarmos a nossa opinião.
Essa, claro depende do modo como cada um de nós, enquanto receptor, captou e foi capaz de descodificar a mensagem.

Compreendo que seja dificil ultrapassar a frustração de entender uma mensagem, mas aceitemosque ela pode não ser para nós...

PS: Claro que há fotos-poema!!!

SG disse...

Errata
... a frustração de não entender uma mensagem...

(claro...)

António disse...

Às vezes dá-se demasiada ênfase e mérito à trabalheira que o poeta teve; e como leitor, na maior parte das vezes, não tenho grande interesse em saber quantos anos e cabelos e amores gastou ele no poema.

Já me aconteceu esquecer-me da marcha-atrás engatada no carro, julgar-me em primeira e arrancar. Nunca me bule o coração nas manobras de estacionamento - para trás, para a frente -, mas o corpo acomoda-se à previsão que faz do movimento próximo e é provocatória a sua contrariedade; é assim quando pego num livro de poemas e encontro lá alguma coisa que à partida seria doutro universo. E isso é-me válido; provoca-me.

Naturalmente, aqueles que são mais Espertos que Poetas, amanham-se melhor a propor listas de compras que sonetos contadinhos – mas o tempo é bom a apanhar coxos e é importante deixá-lo correr (o tempo, o coxo) antes de proferir sentenças irrevogáveis.

Tudo pode ser poesia: depende. E é esta dependência que torna as possibilidades ilimitadas.

Anónimo disse...

E Al Berto? Onde esta o Al Berto?

Grande blog! Descobri-o hoje. Passarei cá todos os dias. ;)

João Luís Barreto Guimarães disse...

PRÓS…
“Não discuto se é poema porque foi assim que o autor o apresentou. (…) acho-o belo de um modo frio e terrível. O autor mostra-me (…) que neste tempo em que vivo se carrega a vida e o registo das relações no bolso do casaco” - J. LEAL

...e CONTRAS
“Sendo o quotidiano o mercado onde vamos com a nossa lista de compras, não é por enchermos o carrinho com os produtos da lista que temos o jantar pronto.” - LAERCE

memória perturbada disse...

E onde tenho andado que só hoje o descobri. Tem tanto para ler-aprender-pensar que terei de passar aqui uns anos.

Obrigada. Sim, obrigada.

Anónimo disse...

Ainda, depois do que me parece o ponto final dado pelo anfitrião, porque já estava no fim de escrever o comentário:

Procuro ser honesto comigo mesmo, o que de todo não me cria anticorpos contra a falta de lucidez e de agudeza de análise, eu sei. Mas há aqui algo que não bate certo.

Se saio meio febril de 4:48 Psychosis, de Sarah Kane (1971-1999) e ando um dia inteiro, o seguinte, meio marado; se, da mesma autora e no festival anterior de La Escena Contemporanea de Madrid, venho de Phaedra's Love com um entusiasmo inaudito; se a mesma osmose imediata me batia tão forte enquanto via Blasted já nem sei onde, e sendo a curta obra de Sarah Kane um libelo tremendo sobre o nosso tempo em forma de arte rigorosa e inovadora no tratamento do humano e tão verdadeiramente contemporânea que creio sobreviva enquanto a arte for importante para os que hão-de vir, enfim, se depois deste exemplo (entre outros) me puser a pensar no poema de Jorge Gomes Miranda (1965), que posso dizer? Que não fui tocado pela graça da tal osmose da contemporaneidade nessa poesia? Mas se 4:48 Psychosis lida é muito mais um poema que uma peça?

Devo concluir que há mais modos de ser-se contemporâneo que balizar os assuntos e a(s) forma(s) permitidos na poesia de determinado grupo? Devo, em nome da contemporaneidade, aceitar o modo desleixado (e por isso não coloquial) da linguagem, que é intencional, eu sei, no exemplo de JGM? Devo aceitar isso com pruridos de que venham a chamar-me retrógrado? Se sou capaz de antever longa vida para a obra de Sarah Kane (estarei errado?), porque é que não consigo intuir o mesmo para algo que, afinal, me parece muito mais programático que criativo, muito mais cedência a quem lê por cima do ombro do que um acto de liberdade criativa?

No entanto, para lá daquele plus que sempre me faltará na leitura do poema, pergunto-me:

- A poesia será no futuro toda assim, alinhada por baixo como a programação das tevês?
- Será uma tentativa para evitar a morte previsível da poesia, atendendo para onde conduzem a humanidade?
- E será pela primeira questão que JLBG lhe vê (acertadamente) um modo de colagem? Penso que não.
- Por último, para uma poesia ter o coração neste século é preciso ir buscar assunto aos benefícios tecnológicos, aos modos de comércio, ao laboratório de análises como tema central? Então onde fica o homem e a sua condição de ser contemporâneo e também as inquietações, alegrias, etc. pelo menos enquanto o ensino e demais determinantes o não tornarem o clone desejado?

Devo ainda perguntar-me se a poesia deste género, menos conceptual, porém, e menos poseuse, será ainda poesia, e não já um género misto, na peugada, por exemplo, do romance, já não constituído por capítulos de algum modo sequenciais (com ou sem analepses), mas por crónicas ou por histórias independentes, unidas por um denominador comum, por exemplo, uma cidade.

E aqui, sim, a questão parece-me muito pertinente e interessante, bem mais do que debruçar-me sobre algo que parece muito mais contestável que “Martha”: afinal de contas aquele recado de Manuel de Freitas suscitou-me o que o próprio cânone da tendência nega: o lirismo de uma série de perguntas mudas e inquietas, isto sem invalidar a ideia que tenho da provocação que tenta ser.

Talvez seja aquela evolução para a arte mista que atraia JLBG, e então, sim, bato palmas. É o que sucede com a poesia por computador, serve-se de uma série de meios e artes, para já não ser poesia, mas algo a que chamam poesia visual, à falta de melhor designação.

Anónimo disse...

eu nao sei bem falar do que é e do que não é
eu sei que gostei de sentir o que o freitas terá sentido
por causa da marta
por causa do número
eu quando passo as camisas olho sempre para o número
eu sou muito pitagórica
mas o meu patrao acha que sou mais pita-gongórica
acho que foi isso que ele respondeu
o poeta freitas nao deve querer saber nada do que voces escrevem
ele ainda esta a pensar por que tera perdido o numero da menina martha
isso eu entendo
isso acho que é poesia porque poesia é assim uma coisa que nos fica
e nos faz ver a vida para lá das camisas e dos numeros
e sobretudo dos comentarios tao gastinhos de como é um poema
mao havia ate uma poetisa que dizia que era para comer
ai que tenho que ir desligar o fogao desculpem
lola
eu tambem tenho um numero
claro

Anónimo disse...

...vistas bem as coisas ( com uma lente de aumento...) há comentários que são poemas...

...eu sou muito pitagórica
mas o meu patrao acha que sou mais pita-gongórica...

...viva o desarrincanço...

Anónimo disse...

E assim vai a poesia portuguesa, com Marthas e parolas fartas. Ó meu deus!Vou ali e já volto com um poema:"Pedaços de estio agitam o ar/a memória lenta sufraga um gesto onde não/estás, marta". Ora bolas!!! Isto é poesia ó Freitas e Silvas?? Veio o meu sobrinho poeta, o de 4 anos, e já estes versos fez. Herculano Lage

Anónimo disse...

mb,

nao pretendi fechar a tertulia mas fazer um ponto da situacao. Estou em Amsterdam ate domingo mas a casa e vossa... Nao a desarrumem muito
Joao

Anónimo disse...

obrigada mas ninguem me ensinou ainda o que é desarrincar
mas nao deve ser pior do que passar a ferroque nao sei se osenhor lage sabe o que é
eu gostava muito de ler um poema do senhor lage para ver como ele cresceu desde os quatro anos
sem desprimor
o senhor lage que número veste
um numero e muita coisa nao achamas prometa que me lola com um dos seus poelemas
esta bem
lola

Anónimo disse...

Já se me acabou a verve. De facto, o primeiro comentário da Lola podia ser um poema (divertido, ó coisa de antigos, prohibida !). Ri-me daqui a lê-lo e a imaginar Pitta e Gôngora, juntos e tão diversos no seu tempo e no seu modo :) (alguém se lembra de O Tempo e o Modo?)

JLBG, só sei de uma hora que valha mais que outra passada em Amesterdam. A sorte dos outros é sempre melhor que a nossa, isso também sei, e também sei que não há poesia que valha a vida.

Deixo uma citação de Montaigne que, ressalvando os quatrocentos e tal anos que nos separam dela, serviria muito bem para ponto final no assunto quando ele tivesse de chegar ao fim (por mim espero que continue, sem a casa ficar desarrumada):

"Num certo nível primário, podemos avaliar a poesia pelos preceitos e pela arte. Mas a boa, a excessiva, a divina está acima das regras e da razão."

Anónimo disse...

Fico fascinado pela forma como as pessoas utilizam a cultura! Para que serve, afinal?

SG disse...

"A cultura", cito de cor, "é um conjunto de pressupostos que os elementos de um universo aceitam como seus e que o definem."
Por isso se fala em cultura nacional, cultura, regional, cultura de empresa, cultura de bairo, "esfera cultural".
A admissão ao todo pressupõe a aceitação desses pressupostos.

A arte é a expressão dessa cultura.

GBN disse...

Muito divertido neste digladiar sobre os méritos da Poesia, deixo-vos estas palavrinhas de Boris Vian.


TUDO FOI DITO CEM VEZES

Tudo foi dito cem vezes
E muito melhor que por mim
Portanto quando escrevo versos
É porque isso me diverte
É porque isso me diverte
É porque isso me diverte e cago-vos na tromba.


Boris Vian
canções e poemas

Anónimo disse...

Bem, essa do Boris parece uma desculpa de quem não consegue fazer a coisa de forma mais higiénica...

lésbica só disse...

acho que a citação do Montaigne podia terminar o debate. não que eu esteja a mandar calar ninguém, apenas eu subscrevo e não acho necessário dizer mais.
No entanto quero saudar esta polémica e espero que se repita.

Anónimo disse...

Na poesia


Na poesia procuro uma casa onde o eco
existe sem o grito que todavia o gera.

Gastão Cruz

Anónimo disse...

Está-me a parecer nítido que as pessoas procuram coisas diferentes na poesia (na arte em geral). A vantagem dos tempos que correm é que há coisas para todos.

Anónimo disse...

Se me permite uma sugestão, JLBG, os comentários do blogue podiam abrir noutra janela; de forma a que o texto do post original estivesse visível.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

"Está? Fala a Marta..."

ou como um anúncio de seguros foi buscar a sua originalidade! Será poesia???

Anónimo disse...

entao ó senhor lage escreva lá um poema para a gente
ó meu deus saber como é
a ritinha cá em casa também escreve e mostra
mas o paulinho acho escreve mas não mostra
o rui só exibe mas muita gente não gosta
o sócrates o verdadeiro parece que nunca andou a perguntar pela poesia
e não era preciso
sempre houve quem escrevesse poemas
e gente como eu
que passa as tardes a passar
a ferro acha que o camoes
escreveu poemas
o bocage escreveu poemas
o valter hugo tambem
escreveu poemas
acho é que sao diferentes numeros
toda a gente passa a ferro mas nao passa tao bem como eu
é o meu patrao quem diz
eu ca nao quero medir-me com ninguem
mas o senhor lage bem podia dedicar-me
um poema sem sobrinho dentro já agora
so com um sorriso de fora

Anónimo disse...

Há uma pequena/grande questão que, parece-me, não foi focada neste debate: como é que uma corrente poética, cujo capataz é o joaquim manuel magalhães, depois de tresler Larkin, que se tornou dominante na poesia portuguesa, pode conter ainda alguma dose de provocação? Não são estes mesmos poetas que colonizam todas as editoras e todos os suplementos literários que pululam por aí? não é o senhor magalhães, que aí há alguns anos vociferava contra o epigonismo o maior acarinhador de epígonos da poesia portuguesa? Será por acaso que o pedro mexia chamou a essa geração cosntelação dominante? que saiba ele que nuna foram as constelações dominantes que fizeram a poesia dalgum lugar, mas as verdadeiras estrelas com o seu brilho solitário. quanto ao senhor jorge melícias, não tem nenhuma autoridade como poeta: não é epígono do magalhães, mas é pigmeu do herberto helder.

Anónimo disse...

Só para confirmar a minha opinião sobre o poema de Jorge Gomes Miranda. Nao foi por uma questão de gosto pessoal que a formei, nem de ser contra ou a favor do real em poesia. Tem a ver apenas com um poema de invenção claramente forçada. Não por JGM ter surgido na antolgia Poetas sem Qualidades, reunida por Manuel de Freitas. José Miguel Silva também consta dessa antologia e pôs há pouco, no seu blogue, um poema que considero muito conseguido e que me alegrou bastante lê-lo. Nem de propósito.

E Pedro Mexia, nesta crítica de 2004, ao escrever sobre a generalidade da poesia de JGM, confirmou-me a opinião sobre o poema aqui posto, quando ontem a encontrei.

Parece-me bastante redutora e injusta a catalogação que se pretende impor à poesia de outros. É uma espécie de apropriação de capital alheio com que se rentabiliza o próprio. E perigoso para quem não vê que está a ser diminuido do único capital que tem, a sua originalidade.

sephi disse...

Esta polémica é extremamente interessante, contagiante e compulsiva. Tentei escapar mas, pelos vistos não vou conseguir. O número de golpes trocados é já consideravel e pode, quem sabe, perpetuar-se até que a memória do blog entre em colapso.
Os prazeres da paz e da harmonia obrigam-nos a esquecer esta coisa incómoda de a Poesia estar comprometidíssima com a Guerra. Sonhamos estar do lado de fora da Guerra, expulsar a Guerra para fora da Harmonia do poema e nisto fazemos precisamente o que faz a Guerra.Definimos o que é, e o que não é, em abundantes códigos marciais e artes poéticas.
É muito curioso reparar na violência extrema dos poetas da paz quando chega o momento de falar dos outros poetas.
Relembro um destes grandes , Platão, que expulsava os poetas da cidade justa em nome dos mais altos valores poéticos, fazendo guerra à guerra, fazendo poesia à poesia, definindo e eternizando a violência.
Violência de papel, dir-se-á, inofensiva portanto. Mas a poesia pode sair do papel e quando isso acontece o horror não vem longe(veja-se Lacoue- Labarthe, La poésie comme expérience).
Polemos por amor da poesia. Este eterno rapaz, Amor, guerreiro violentíssimo, trespassador de corações, sem o qual nada seria, não é digno de confiança; o fogo não é digno de confiança.E adora versos. Terá sido ele que decidiu invadir o Iraque no dia mundial da poesia?
Aproveito para louvar o excelente título deste blog Poesia & Lda. desejando que o & não seja apenas o trocadilho da ilimitação mas uma verdadeira cópula, dando peso à necessidade de limitar os estragos causados pela poesia, e pelo nosso amor. Limitação com prosa, portanto.

Anónimo disse...

Uma precisão: Jorge Gomes Miranda
não se encontra incluído na antologia "Poetas sem Qualidades"
organizada por Manuel de Freitas.
Outra: com nove livros publicados, o leitor encontra na sua obra vários registos poéticos,distintas vozes.
Querer prendê-lo a um determinado espaço poético só pode relevar do desconhecimento ou da mais deliberada má-fé.
Leiam por exemplo o mais recente "Requiem".

João Luís Barreto Guimarães disse...

Jorge Gomes Miranda é um poeta excepcional.

Anónimo disse...

Caro Anonymous do antepenúltimo comentário, não comprei a antologia porque não compro o que querem que eu compre: compro aquilo que quero e posso comprar. Também não sou crítico nem pertenço às facções que metralham mimos umas sobre as outras. Lastimo é que se matem nas suas poesias com essa raiva de seita.

Não me referi a nada de JGM senão ao poema posto aqui, e sobre esse tenho todo o direito de me pronunciar, desde que o dono do blogue mo permita. Ter uma opinião depreciativa não limita a poesia de JGM e inferi-lo, nessa sua sinédoque súbita, não o abona. E disse eu que Pedro Mexia, ao escrever sobre a generalidade da poesia de JGM, me confirmou a opinião sobre o poema em discussão (sobre o qual muito pouco se pensou). Não quis dizer mais que isto: confirmou-me a opinião sobre o poema. Não escrevi sobre a generalidade da poesia de JGM. E disse ainda mais no comentário acima: Parece-me bastante redutora e injusta a catalogação que se pretende impor à poesia de outros, pensando não só em JGM, como em JLBG e ainda em José Miguel Silva.

Extrapolar o inverso é abusivo. Ainda que conheça mal a obra de JGM (os livros não me vêm parar a casa, tenho de comprá-los segundo prioridades que vou establecendo, consoante as minhas inclinações e a minha bolsa), ainda que conheça mal a poesia de JGM, ia dizendo, não sou de todo ignorante dela. Quanto ao Réquiem parece-me um livro de maturidade e tem algo da Poesía de la Experiencia que me agrada bastante, numa linguagem poética digamos que portuguesa ou, pelo menos, nada castelhana.

JLBG, para mim, do que conheço, Jorge Gomes Miranda é um bom poeta (melhor que muitos, muito mais badalados, nascidos antes e depois dele), o que talvez queira dizer o mesmo que "poeta excepcional", se dito sem paixão. Mau, repito, e para meu juízo apenas, é o poema dele aqui posto à discussão.

João Luís Barreto Guimarães disse...

“(…) quem acusa este tipo de poesia de não se afastar suficientemente do imediato, de se moldar pela banalidade da vida quotidiana, esquece-se muitas vezes que, neste caso, o golpe da magia poética, quando é conseguido, consiste precisamente em interromper aquilo que está diante dos nossos olhos, em provocar um acto de estranhamento que faz com que apareça como uma forma de experiência aquilo que estava escondido na repetição banal. Esta interrupção, que é um estado de excepção na regra da quotidianidade, revela as asperezas que o hábito tinha alisado. Este quotidiano reclama a descoberta, a invenção, a construção. Desvelar-lhe o rosto é sempre mais difícil do que parece e significa descobrir o significado trágico do presente que não temos o direito de desprezar.”

António Guerreiro, in Relâmpago n.º12, sobre “Alguns aspectos da poesia contemporânea”

Anónimo disse...

nao se chateiem, ajudem mais em casa.
eu gosto é do cesariny ás vezes,

Poesia Portuguesa disse...

Quis deixar
uma letra pequenina,
onde coubesse
o sol e o vento,
o humor e a alegria,
letra minha
que não fosse solidão
mas um pouco de
cheiro a maresia.
Mas a névoa
não deixa ver a letra
desinspirada
pelo abandono
de multidões
que nos deram tudo
e deixaram-nos
o nada.
Hoje
vagabunda
neste espaço
caminho lado a lado
sem letras.
Fechada, neste
tinteiro transparente,
esperando
que alguém
lhe tire a tampa
e que as palavras se soltem
diluindo
o vazio
que na mente
se instalou.
Palavras
voltem aqui
a este espaço
que conheceu
diálogos quentes,
música de ambiente,
mas que um vendaval
limpou e,
triste aqui
estou,
onde nem
a alegria entrou.
Senta-te aqui comigo,
dita-me palavras
murmuradas ao ouvido
da saudade
de ti,
de mim,
de todos,
aqueles
que nunca estiveram
fechados num
tinteito transparente
mas que iluminavam este sítio
e a minha mente!


... eu sei que isto não é um poema. Antes, um amontoado de letras, que há anos, escrevi..

Deixo-o aqui... em honra de todos os vossos comentários, que atentamente, li.

Grata pela "lição" de Poesia que aqui deram...

Anónimo disse...

Como se dá uma lição de poesia?