quinta-feira, setembro 08, 2022

BERNARDO PINTO DE ALMEIDA

 



A ESTRADA MENOS VIAJADA

Bernardo Pinto de Almeida

Sr Teste, Janeiro 2022

74 páginas


A característica mais expressiva de “A Estrada Menos Viajada”, de Bernardo Pinto de Almeida é a opção que o poeta faz por poemas magros e esguios de verso curto e nervoso, a maioria de género lírico, neste e naquele cindindo a última palavra, obrigando o leitor a optar (“apesar” / “a-pesar”; “acena” / “a-cena”), tal como o sujeito lírico do poema “The Road Not Taken”, de Robert Frost, por um de dois caminhos – uma de duas leituras, um de dois sentidos – ambos válidos, ambos possíveis mas obrigatoriamente como no poema do americano, de escolha exclusiva.

Como na vida. De dentro dessa exígua mancha gráfica, o poeta prossegue o seu conhecido programa de ver, de re-parar nos assuntos da cidade e do amor – a verdadeira força motriz dos recomeços – dialogando com a tradição e com os poetas de eleição através de uma prosódia limpa e de uma dicção aural, aludindo desta vez à pedra no caminho de Drummond de Andrade ou à poesia que existe nas coisas de William Carlos Williams, entre outros.

No poema “A Queda”, por exemplo, socorre-se de um jogo homonímico entre perda de alegria (e a consequente perda de peso) para um apontamento de humor, num livro que é, no restante maioritariamente sério e reflexivo como sucede em “A Porta”, um dos mais importantes textos do livro. A voz que fala de dentro destes poemas recupera numa mão cheia de instâncias, o tema da idade dourada, a infância pura e irrepetível, por oposição à idade adulta tardia, isto é, o topos da mudança de estação na vida; “Lição de Trevas” é uma peça que alude ao Inverno cronológico (“um / ano mais a cair / do calendário, / dessa misteriosa / agenda, ou livro / de horas, a que / chamamos vida.”). O contraste entre estes dois momentos na vida do sujeito lírico – o primeiro trazido pela memória, este vivido no presente – justificam talvez a urgência destes poemas velozes, a ansiedade objectivada através da forma esguia, reflectindo-se nisso a pressa para o que falta viver.

Relê-se agora com outra propriedade a conhecida epígrafe de Robert Frost que abre o livro (“Two roads diverged in a wood, and I – / I took the one less traveled by, / and that made all the difference.” que alude à escolha por ambos os poetas, o americano e o português, pela estrada menos viajada, que ganha aqui para o nosso autor o cunho de um primeiro balanço de vida, à chegada do Inverno. Estrada essa que, pesados perdas e ganhos, fez toda a diferença. Como no caso do amor.


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