MIGUEL MARTINS
Lérias
Lisboa, Averno, 2011
por JOÃO PAULO SOUSA
Na aparente atitude de desvalorização do que nomeia, o título desta obra
de Miguel Martins (dotada de um grafismo raro e belo, da responsabilidade do
também poeta Rui Pires Cabral) escapa por instantes à ingenuidade que contamina
alguns dos seus textos. São poemas em prosa, que oscilam entre um registo a
roçar o desvelamento de traços biográficos do sujeito poético e a manifestação
de opiniões ou de opções existenciais. Neles constata-se, por vezes, uma força
e uma segurança assinaláveis, mas não menos vezes tem-se a impressão de que o
poema se estendeu para lá do que seria desejável – perdendo o fulgor que a
contenção lhe poderia ter dado – ou que não ultrapassou o mero registo dos sinais
inerentes a uma atitude contestatária. Assim, se há momentos bem conseguidos,
que abrem ao leitor uma perspectiva menos expectável acerca de um determinado
assunto, outros há que, alheados da ironia, se ficam pela manifestação de um
olhar em que um certo tom de revolta não chega para dissimular a candura, que é
a sua característica mais marcante. Veja-se, a título de exemplo do primeiro
caso, a abertura do poema 13, «Do tacto», e repare-se como ela nos conduz até
uma ideia de libertação habilmente enunciada:
Do tacto pouco se fala, e quase sempre em sentido figurado. O tacto é,
contudo, o mais interessante dos cinco sentidos, o menos embotado por excessos
de informação, o menos sujeito a ideias de gosto, pré-concebidas por outros, o
que ainda nos pode dar prazeres em estado mais puro, menos sujeitos a
racionalizações, na fronteira entre o medo e a entrega. (p. 21)
No fundo, é talvez sobre esta oscilação entre o medo e a entrega que se
constroem os poemas em prosa deste livro de Miguel Martins. Se é notório que
todo o seu apoio recai sobre o segundo termo, também não deixa de ser verdade
que uma entrega carregada de autenticidade está longe de ser o melhor
ingrediente para uma construção poética. Um texto como «Bartleby Bar (Lisboa,
década de 2010)», por exemplo, não chega sequer a parecer um manifesto de
intenções, antes se assemelha a uma declaração de pertença a um grupo (edição
Averno oblige?), nimbada de uma ingenuidade talvez tocante (alguns,
claro, diriam autenticidade, esquecendo a dimensão irremediavelmente artificial
da arte):
Um projecto que, para mais, não tem plano de acção, calendário ou
objectivos que não os que ele mesmo comporta. A recompensa de o ir pondo em
prática confina-se, precisamente, ao prazer de pô-lo em prática. E isso
basta-nos. (p. 25)
Ainda bem. Já para fazer literatura, no entanto, é que isso não basta, e
esse, ao que parece, até era o principal propósito deste livro.
1 comentário:
can't believe that this man is so real, how can I thank you enough, I can't fail to testify about the good things you have been doing for me and now you still went ahead and do same for my friend, please everyone if you have anything disturbing you please your solution is hear with Dr.osupalagba the great spiritualist who can solve any problem in a twinkle of an eye. No matter the problems, whether spiritual problem, you want to get your ex back, promotion in your workplace, spiritual cleansing, fruit of the womb, mental illnesses, protection for gun, protection for cutlass, protection for bottle, protection for snake and scorpion bites and cure. Are you a victim of any of the above listed setbacks, you can contact Dr.osupalagbavia Email: osupalagba.temple@gmail.com
Call/WhatsApp +2347051667586
Enviar um comentário