domingo, dezembro 02, 2012

BRUNO WEINHALS

BRUNO WEINHALS nasceu em Horn, na Áustria. A sua é uma poesia urbana, minimalista que explora os modos como a linguagem consegue aprisionar o quotidiano e o efémero, com densidade poética. Traduzido em 1998 nos Seminários de Tradução Colectiva de Mateus, o austríaco viu editado em 2000 pela Quetzal, "Uma Conversa Passa Pelo Papel e outros poemas", edição coordenada por Maria Teresa Dias Furtado, de onde se estrairam, com a devida vénia, alguns poemas.



FRÁGIL

Escrever o teu rosto neste envelope
e acreditar que assim tu voltarias

Vã tentativa
fazer acreditar no magnetismo da linguagem
na força da gravidade das letras


§


NA PIAZZA

Um sopro vem como vento
disfarçado sobre a praça
quente ou frio ou
como for

A praça abre-se
em espaço e multidão
Um avião corta-a
Um helicóptero da polícia nas cores
do céu das nuvens
revolve-a

Motivos repetidos
Barulhos da cidade a trabalhar

Nos forasteiros repousa cansado
o ardor da curiosidade


§


DÁDIVA MATINAL

Um beijo
e estas palavras
ao teu ouvido

na tua boca
possa este peso imposto
ser-te leve


§


MÚSICA DE VERÃO

Longe da sombra do ouvido
a fonte
o cortador de relva

Água e relva
enrelaçados nas suas músicas


§


LINGUAGEM E AMOR

Voltaste
da sombra com o teu rosto
Que ficou ainda por dizer

Lábios tocaram palavras
palavras corpos
lábios lábios


§


DIA PASSADO AO SOL

Descuidada uma onda brinca com a sua garrafa
passa por cima da água e chega à praia

Um castelo de areia constrói-se protegido
por pouco mais do que marcas de dedos

A água lava-o
A onda abandona a garrafa
Um cargueiro passa ao largo
e assim por diante


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