BRUNO WEINHALS nasceu em Horn, na Áustria. A sua é uma poesia urbana, minimalista que explora os modos como a linguagem consegue aprisionar o quotidiano e o efémero, com densidade poética. Traduzido em 1998 nos Seminários de Tradução Colectiva de Mateus, o austríaco viu editado em 2000 pela Quetzal, "Uma Conversa Passa Pelo Papel e outros poemas", edição coordenada por Maria Teresa Dias Furtado, de onde se estrairam, com a devida vénia, alguns poemas.
FRÁGIL
Escrever o teu rosto neste envelope
e acreditar que assim tu voltarias
e acreditar que assim tu voltarias
Vã tentativa
fazer acreditar no magnetismo da linguagem
na força da gravidade das letras
fazer acreditar no magnetismo da linguagem
na força da gravidade das letras
§
NA PIAZZA
Um sopro vem como vento
disfarçado sobre a praça
quente ou frio ou
como for
disfarçado sobre a praça
quente ou frio ou
como for
A praça abre-se
em espaço e multidão
Um avião corta-a
Um helicóptero da polícia nas cores
do céu das nuvens
revolve-a
em espaço e multidão
Um avião corta-a
Um helicóptero da polícia nas cores
do céu das nuvens
revolve-a
Motivos repetidos
Barulhos da cidade a trabalhar
Barulhos da cidade a trabalhar
Nos forasteiros repousa cansado
o ardor da curiosidade
o ardor da curiosidade
§
DÁDIVA MATINAL
Um beijo
e estas palavras
ao teu ouvido
e estas palavras
ao teu ouvido
na tua boca
possa este peso imposto
ser-te leve
possa este peso imposto
ser-te leve
§
MÚSICA DE VERÃO
Longe da sombra do ouvido
a fonte
o cortador de relva
a fonte
o cortador de relva
Água e relva
enrelaçados nas suas músicas
enrelaçados nas suas músicas
§
LINGUAGEM E AMOR
Voltaste
da sombra com o teu rosto
Que ficou ainda por dizer
da sombra com o teu rosto
Que ficou ainda por dizer
Lábios tocaram palavras
palavras corpos
lábios lábios
palavras corpos
lábios lábios
§
DIA PASSADO AO SOL
Descuidada uma onda brinca com a sua garrafa
passa por cima da água e chega à praia
passa por cima da água e chega à praia
Um castelo de areia constrói-se protegido
por pouco mais do que marcas de dedos
por pouco mais do que marcas de dedos
A água lava-o
A onda abandona a garrafa
Um cargueiro passa ao largo
e assim por diante
A onda abandona a garrafa
Um cargueiro passa ao largo
e assim por diante
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