sexta-feira, março 23, 2012

Meter conversa (3)

Precisamos de estar mais atentos ao que escrevem os políticos em início de carreira. Os indícios estão lá todos. Gonçalo M. Tavares surpreende a plateia ao recuperar extractos dos escritos de Adolf Hitler, onde o putativo ditador lamentava os gastos da sociedade alemã com a saúde dos seus próprios deficientes. A provocação do Gonçalo é demasiado clara para não ser entendida, e em tempos de austeridade com regras vindas da Europa, só não a entende quem não quiser entender: «Degrau a degrau, o mundo contabilístico vai-nos tirando direitos».

Companheiros de ofício, desde há algum tempo conhecidos, sento-me a lanchar com ele enquanto me autografa três livros da série «O Bairro» que acabo de comprar. E percebo que o incomoda que eu os tenha comprado, que tenha gasto dinheiro com ele, não ter consigo exemplares para me oferecer, tanto quanto o incomoda que me tenha levantado para lhe oferecer o sumo com que devolvo humidade, a uma boca onde sobra humildade.

Tanto jovem turco irrompe pisando memória e tradição, que chega a ser desconcertante que a grandeza do Gonçalo não esteja apenas na obra que entretanto construiu, sequer num olhar profundo onde abunda intelecção, quanto na consciência que tem de que faça o que vier a fazer, chegue onde tiver de chegar, jamais deixará de se ver como um «anão aos ombros de gigantes».


Póvoa de Varzim, 25 de fevereiro de 2012



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