NIKOLA MADZIROV nasceu em Maio de 1973 em Strumica, República Macedónica, numa família de refugiados da guerra dos Balcãs. Poeta, ensaísta e tradutor, diversas vezes premiado, uma das novas vozes da jovem poesia europeia que vale a pena acompanhar, publicou este ano nos Estados Unidos “Remnants of another age” (Boa Editions, Ltd., Rochester, N.Y., 2011), com tradução do macedónio por Peggy e Graham Reid e Magdalena Horvat e Adam Reed, e introdução de Carolyn Forché. Quatro versões do inglês, com a devida vénia:
MUITAS COISAS ACONTECERAM
Muitas coisas aconteceram
enquanto a Terra girava no
dedo de Deus.
Os cabos libertaram-se
dos postes e ligam
agora um amor a outro.
Gotas de oceano
depositaram-se avidamente
na parede das cavernas.
Flores separaram-se
da terra e partiram
perseguindo seu aroma.
Do bolso de trás, pedaços de papel
começaram a voar pelo nosso quarto arejado:
coisas irrelevantes que
nunca faríamos a menos que
fossem apontadas à mão.
§
VOANDO
A neblina pende sobre a cidade
como a face caída da Virgem Maria
num fresco distante.
As antenas parabólicas falam com
os anjos
tentando determinar o tempo para amanhã:
claro, seguro, expressivo
como um calendário com
datas a vermelho.
Mas assim que a noite junta
as sombras à parede,
irás esgueirar-te para os ramos
como uma ave rara
vinda do outro lado de uma nota de banco.
§
CIDADES QUE NÃO NOS PERTENCEM
Em cidades estranhas
nossos pensamentos vagueiam calmamente
como túmulos de artistas de circo esquecidos,
os cães ladram aos caixotes do lixo e aos flocos de neve
que sobre eles caem.
Em cidades estranhas passamos despercebidos
como um anjo de cristal fechado numa caixa de vidro sem ar,
como um segundo terramoto que meramente
rearranjasse o que já estivesse arruinado.
§
ERA PRIMAVERA
Era primavera quando o invasor
queimou a escritura do terreno onde apanhávamos pássaros,
insectos coloridos, borboletas
apenas existentes em velhos compêndios de biologia.
Muitas coisas mudaram o mundo
desde então, o mundo mudou muita coisa em nós.
MUITAS COISAS ACONTECERAM
Muitas coisas aconteceram
enquanto a Terra girava no
dedo de Deus.
Os cabos libertaram-se
dos postes e ligam
agora um amor a outro.
Gotas de oceano
depositaram-se avidamente
na parede das cavernas.
Flores separaram-se
da terra e partiram
perseguindo seu aroma.
Do bolso de trás, pedaços de papel
começaram a voar pelo nosso quarto arejado:
coisas irrelevantes que
nunca faríamos a menos que
fossem apontadas à mão.
§
VOANDO
A neblina pende sobre a cidade
como a face caída da Virgem Maria
num fresco distante.
As antenas parabólicas falam com
os anjos
tentando determinar o tempo para amanhã:
claro, seguro, expressivo
como um calendário com
datas a vermelho.
Mas assim que a noite junta
as sombras à parede,
irás esgueirar-te para os ramos
como uma ave rara
vinda do outro lado de uma nota de banco.
§
CIDADES QUE NÃO NOS PERTENCEM
Em cidades estranhas
nossos pensamentos vagueiam calmamente
como túmulos de artistas de circo esquecidos,
os cães ladram aos caixotes do lixo e aos flocos de neve
que sobre eles caem.
Em cidades estranhas passamos despercebidos
como um anjo de cristal fechado numa caixa de vidro sem ar,
como um segundo terramoto que meramente
rearranjasse o que já estivesse arruinado.
§
ERA PRIMAVERA
Era primavera quando o invasor
queimou a escritura do terreno onde apanhávamos pássaros,
insectos coloridos, borboletas
apenas existentes em velhos compêndios de biologia.
Muitas coisas mudaram o mundo
desde então, o mundo mudou muita coisa em nós.
1 comentário:
gosto muito das coisas que você seleciona!
fico encantada cada vez que chego aqui.
abraços
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