sábado, fevereiro 26, 2011

DANIEL HEVIER


DANIEL HEVIER é um dos poetas eslovacos mais conhecidos da sua geração. Nascido em Bratislava, em 1955, estudou Estética e Literatura Eslovaca. Editor, poeta e escritor para crianças, publicou o seu primeiro livro em 1974. É um dos poetas do Leste Europeu onde o humor é claramente assumido como recurso estílistico, estando os seus versos infundidos por uma alegria de viver e uma frágil ternura. Hevier, um dos poetas representados em “Six Slovak Poets” (Arc Publications, Todmorden. U.K., 2010, série editada por Alexandra Büchler), procura, na opinião de Igor Hochel que assina a introdução, «uma transparência de significado» abusando por isso da linguagem coloquial da sua época para escrever poemas claros e precisos. Eis quatro exemplos, vertidos do inglês, traduzido do eslovaco por John Minahane.



O HOMEM DEU NOME A TODOS OS ANIMAIS

O homem deu nome a todos os animais,
canta Bob Dylan
e eu tento nomear
tudo quanto tenho em mim:
todos esses
tigres,
lobos,
chacais,
serpentes,
gaviões,
pôneis,
babuínos,
crocodilos,
lagartos,
manadas de cavalos,
pombos.

... ...

toda essa menagerie
conhecida como
a alma masculina.


§


COM O MOTOR DESLIGADO


Ao atravessar a fronteira
entre
beleza e banalidade
sobresai um homem
cansado de inventar poemas.

Não tem nada a declarar
com a excepção de alguma
trivialidade inútil.


§


HAMLET, LOUCO COMO SEMPRE


O Computador J.S. Bach
compõe música
para acompanhar anúncios televisivos
de poltronas anti-obesidade.

O Computador Leonardo
está a pintar o original mil e um
da Mona Lisa
enviando encomendas para os primeiros milionários
da lista de inscritos.

O Computador Hemingway
escreve memórias
para políticos arruinados.

O Computador Napoleão
está a preparar
materiais para uma nova variante
de guerra psicadélica.

O Computador Galileo
está a retraír a sua teoria
de um universo elástico.

O Computador Seneca
está a tratar com a ONU da questão das mulheres
e dos suicídios em massa
das baleias.

O Computador Adão
e o Computador Eva
estão a fazer novos computadores.

O Computador Hamlet
encravou,
e repete incessantemente
uma estranha pergunta sem sentido.


§


TERRA DE GELO


a ideia
de que existe algures
um país como o islândia

ajuda-me a sobreviver


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