sexta-feira, março 19, 2010

RUI MANUEL AMARAL acerca de RUSSELL EDSON

«'Outono' não é exactamente um poema.», observa Rui Manuel Amaral. «Também não é propriamente um conto curto. É algo que fica a meio caminho entre um género e outro. Ou que, de certa forma, parece combinar os dois. Os estudiosos chamam-lhe 'prosa poética'. Uma espécie de ornitorrinco literário. É justamente essa ambiguidade, essa condição de coisa escorregadia, desarrumada e difícil de classificar que me apaixona na grande criação literária. A obra de Russell Edson é um dos melhores exemplos disso mesmo: uma poderosa afirmação de liberdade, de negação de categorias e fronteiras. E este conto-poema-ou-o-que-lhe-queiram-chamar é uma obra-prima desse género singular: não é poesia, não é prosa, é grande literatura.»
THE FALL

There was a man who found two leaves and came indoors holding them out saying to his parents that he was a tree.

To which they said then go into the yard and do not grow in the living-room as your roots may ruin the carpet.

He said I was fooling I am not a tree and he dropped his leaves.

But his parents said look it is fall.


§


O poema 'The Fall', do livro 'What A Man Can See' (1969), foi traduzido por José Alberto Oliveira e publicado em 'O Túnel', Assírio & Alvim, 2002. Russell Edson (EUA, 1935) é autor de vários livros de poesia, além de obras de ficção e peças de teatro. Leia um extracto da introdução de José Alberto Oliveira a "O Túnel", no site da Assírio & Alvim.


§


OUTONO

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.

Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.

Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.

Mas os pais disseram olha é outono.




Rui Manuel Amaral nasceu no Porto, em 1973, cidade onde vive. Autor de 'Caravana', livro de contos, publicado pela editora Angelus Novus, em 2008. Foi fundador da 'Águas Furtadas, Revista de Literatura, Música e Artes Visuais' e seu coordenador literário entre os números 7 e 10. Está representado em diversas antologias dedicadas ao conto breve, editadas em Portugal e no Brasil. Tem colaborações dispersas por múltiplas revistas literárias. É autor de vários livros sobre história oral e tradições populares da cidade do Porto. É co-autor com Cristina Marti do blogue 'Dias Felizes'.

Leia mais sobre Rui Manuel Amaral, aqui.


3 comentários:

José Carlos Brandão disse...

Poema bem a propósito, agora que o outono bate às portas. Bom poema. Surpreende.
Abraços.

João Luís Barreto Guimarães disse...

Curioso: O José Carlos Brandão não está a ser irónico, agora que em Portugal a primavera bate à porta.

José Carlos Brandão está a ler-nos... no Brasil.

Mosquinha disse...

Adoro!!um poema que digo muitas vezes... seja qual for a estação.
Andreia M.