sexta-feira, março 12, 2010

INÊS LOURENÇO acerca de RICARDO REIS

«Pese embora a minha grande admiração pela escrita de poetas de outras línguas», refere Inês Lourenço ao Poesia Ilimitada, «continuo a achar que Fernando Pessoa é um caso à parte em qualquer literatura. No poema «Autopsicografia», ele tira logo o tapete às interpretações mais ou menos impressionistas e biográficas do fazer poético, revelando o lado ficcional da escrita e a prevalência do sujeito poético ou eu-lírico, sobre o sujeito biográfico. Isto foi uma enorme inovação, inserida no Modernismo, de que muito boa gente, ainda hoje, não tomou consciência. E, quem não tomou consciência disso, nada percebe da poesia actual. Muito mais poderia acrescentar sobre heteronímia ou o «drama-em-gente»; mas isso já está sobejamente descrito e estudado. Como poema preferido, lembro-me de uma ode do heterónimo Ricardo Reis que muito aprecio.»




Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.



Inês Lourenço nasceu no Porto em 1942. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Publicou diversos livros de poesia entre os quais "Os Solistas", "Um Quarto com Cidades ao Fundo – poesia reunida (1980-2000)", "A Enganosa Respiração da Manhã", "Logros Consentidos", "Disfunção lírica", entre outros. Coordenou e editou desde 1987, os Cadernos de Poesia – Hífen, com 13 números editados, publicação de carácter inter-geracional, em que participaram com colaborações inéditas, grande parte dos poetas portugueses actuais, bem como poetas de outras línguas. É a autora do blogue "Logros Consentidos".


Leia mais no Poesia Ilimitada sobre Inês Lourenço, aqui.




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