domingo, agosto 02, 2009

«Sabe, a poesia não se vende...»


3 comentários:

AM disse...

Um dia, ha muitos anos, passava na Rua de Santa Catarina e fui abordada por um rapaz sorridente com umas folhas A4 na mao e que me pretendia vender um poema a troco nao sei de quantos centimos. Ri-me e fiz-lhe crer que so aceitaria um poema se este nao fosse um ojecto de comercio. Recebi um sorriso em troca e a oferta de uma folha - era um poema de William Carlos Williams (nao me recorda qual) - arrependi-me de nao lhe ter dado nada mas achei que se lhe passasse uma moeda depois daquele gesto estragaria o momento. Respondi-lhe com um sorriso e guardei comigo o poema. Um dia, quem sabe, talvez eu escreva um poema ao rapaz que vendia ilusoes em Santa Catarina. Tanta arte de rua, tanto pedinte e "cravante" e eu nunca mais vi ninguem vendendo poemas avulso na baixa da minha cidade...

João Renato disse...

Prezado João Luis,
Embora não comente, gosto muito, sempre acompanho seu blog, e gostaria de contar a minha experiência.
Tentei comprar no Brasil a Obra Completa de Miguel Torga. Como não achei, mandei email para cinco grande livrarias de Portugal, perguntando como efetuar a compra pela internet. Apenas uma delas me respondeu (isso mesmo; UMA), mas me cobrava pela remessa três vezes o valor do livro. Assim, acabei encomendando por uma grande livraria daqui, pois saiu mais barato (apesar de demorar dois meses).
Da geração do século XX, só Pessoa é comum. Miguel Torga, Sophia, Ruy Belo, Eugênio, Ramos Rosa, Casimiro, Herberto Helder, Gedeão e Régio, eu conheci graças à internet, e, às vezes, são encontrados numa central de sebos. E imagino que com os nossos poetas aconteça o mesmo em Portugal.
Assim, acho que o problema não é vender poesia, é comprar.
Um abraço,
João Renato.

João Luís Barreto Guimarães disse...

Devo confessar alguma surpresa com os resultados do inquérito que aqui coloquei há dias:


«Quantos livros de poesia comprou desde Janeiro?»


Nenhum – 11%

Um – 6%

Dois a Cinco – 41%

Seis a Dez – 14%

Mais de Dez – 27%


Uma primeira conclusão a tirar é que apenas uma pequena percentagem (11%) desta pequena amostra de leitores - que à partida já se sabia que apreciava poesia ou literatura em geral, - não adquiriu qualquer livro de poesia no último meio ano.

Os restantes 89% de leitores que lêem poesia, compram efectivamente livros de poesia. Não parece ser verdade, portanto, que a poesia “não se venda”. Não se vende a outras causas, isso é verdade! Bem pelo contrário: existem leitores para a poesia e esses leitores compram livros.

Dos 89% de leitores deste inquérito que compram poesia, apenas uma quantidade muito pequena (6%) comprou somente um único livro em meio ano (como presente ocasional, imaginemos). Os restantes 83% de leitores deste género literário reincidiram no crime de comprar livros de poesia.

E a que ritmo? Catorze por cento compraram 6 a 10 livros em meio ano. Vinte e sete por cento adquiriram mais de 10 livros de poesia nesse período de tempo. Assim, os leitores do primeiro subgrupo chegaram a comprar, em alguns meses, dois livros por mês; e os do segundo subgrupo chegaram a adquirir três, eventualmente mais livros de poesia por mês. Estes compradores ocasionais de mais de um livro por mês (um excelente indicador!) somam assim 41% dos leitores de poesia que responderam a este inquérito.

Só estes 41% representam centenas de livros de poesia vendidos. E de outra forma não poderia ser, se pensarmos nas casas editoriais que têm desenvolvido os seus catálogos fundamentalmente à base de poesia e que apesar de todas as dificuldades sobrevivem, com qualidade e rigor.

O meu ponto, porém, é outro. É que dos 89% de leitores que compraram poesia neste meio ano, 47% (6% + 41%) não chegaram a fazê-lo à média de um livro por mês. Uma próxima questão tentará ajudar a perceber porquê.