sábado, fevereiro 02, 2008

PÉTER KÁNTOR

PÉTER KÁNTOR nasceu em Budapeste em 1949, tendo-se graduado em Literatura Inglesa e Russa. O seu trabalho inicial é caracterizado pelo tom rebelde da geração Beat. Mais recentemente, a sua é uma voz que almeja sem pathos, a objectividade dos pequenos eventos e da banalidade do dia-a-dia. Poeta e tradutor, publicou vários livros de poesia. Foi prémio Attila Jozsef em 1994.



A CAMINHO


[ÚTKÖZBEN]


E houve quartos de hotel no caminho,
e todo o tipo de camas nos quartos,
e nas camas escavadas.

“Afundaram-nas, vês, com o trabalho,
com o gozo e suplício de muitos anos,
escavaram-nas, como uma cova.”

“E agora essa cama, ou seja esse buraco,
espera que venha alguém quiçá
que nela caiba exactamente.”

“Mas eu não caibo de modo algum,
porque não fui eu quem o escavou, eu não,
que cada um se deite em sua cova!”

Disse, e levantei-me de um salto.
No entanto, que boas pegadas!
Que cama tão boa, que caminho, que quarto bom.


versão de JLBG e Juan Carlos Mellidez
a partir da tradução castelhana de György Ferdinandy,
Maria Teresa Reyes-Cortés e
Jesús Tomé


§


DO QUE SE NECESSITA PARA A FELICIDADE ?

[MI KELL A BOLDOGSÁGHOZ ?]


Posto assim,
não muito:
dois seres,
uma garrafa de vinho,
queijo do país,
sal, pão,
um quarto,
uma janela e uma porta,
lá fora, que chova,
chuva de longos fios,
e claro, cigarros.
Mas, ainda assim, de muitas noites
apenas uma o duas vezes resulta,
como os grandes poemas de grandes poetas.
O mais é preparatório,
ou epílogo,
dor de cabeça,
ou espasmo de riso,
não se pode, mas deve-se,
é demasiado, mas insuficiente.


versão de JLBG e Juan Carlos Mellidez
a partir da tradução castelhana de György Ferdinandy,
Maria Teresa Reyes-Cortés e Jesús Tomé


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