Irmão mais novo do poeta László Nagy (1925-1978), ISTVÁN ÁGH nasceu em 1939 em Felsőiszkáz. Tendo cumprido estudos secundários em Tapolca, completou o curso de bibliotecário em Budapeste onde trabalhou vários anos em bibliotecas. Quando decidir abraçar a carreira literária, alterou o seu nome de família, Nagy (“grande”), para Ágh (“ramo de árvore”). Apesar da figura do seu irmão ser uma presença constante nos seus escritos de pendor autobiográfico, Ágh é considerado um poeta autónomo e extraordinariamente talentoso, tendo vencido por duas vezes o prestigiado prémio Attila József, em 1950 e 1969, bem como o não menos importante prémio Kossuth, em 1992. A sua poesia evidenciou desde cedo uma nostalgia pelos abrigos que foi obrigado a deixar aquando da sua vinda para a capital, desenvolvendo um método de composição prolífico em imagens, em composições longas, a muitas vozes, como peças de um mosaico. A sua poesia madura lida com a perda da juventude através de uma voz de resignação filosófica. Nas palavras de Jesús Tomé, um dos seus tradutores para espanhol, os seus poemas “dão testemunho de uma humanidade condensada, de um viver e de um existir até à raiz da própria humanidade”. Tendo escrito mais de uma dezena de títulos de poesia, publicou igualmente ensaios, crítica, descrições sociológicas da vida no campo, versos e contos para crianças.
NO METRO, DEPOIS DA ESTAÇÃO DO OESTE
[FÖLDALATTIN A NYUGATI UTÁN]
Próximo já do subúrbio os passageiros envelhecem,
sua face reflecte-se nas janelas sem paisagens.
São estranhos, ainda que de alguma maneira se conheçam,
como essa mulher que subiu na praça do mercado,
com os sacos de compras transbordantes de salsa
por pouco se escapa do abrigo o seu corpo magro,
é como se vestisse roupas alheias,
quiçá não me tenha visto, quiçá eu tampouco quisesse
que me cumprimentasse; assim nos recolhemos numa imaginária
indiferença, como um casal desavindo.
Estrangeiros, ainda que de alguma maneira conhecidos
são aqueles também; como se nada tivesse acontecido,
entraram desde cima — atravessando a terra —
no comboio em marcha, com calças
de linho branco e blusa estampada.
E nós, nessa meia-luz subterrânea
não compreendemos o seu resplandecente ser,
preferiríamos recolhermo-nos, se houvesse para onde,
apertando-nos, negro contra negro, esperando
o fulgor da chegada, enquanto
olhamos o nosso tempo em relógios de pulso alheios.
Já faz tempo que ultrapassaram os sessenta.
Então, esse túnel ainda não se tinha construído;
mas estes dois não se incomodam com tais bagatelas,
é como se ainda fossem a uma borga,
bebem, despem-se antecipando-se, abraçam-se
atravessando as capas das roupas e dos corpos,
e nós, que para sobreviver renunciamos
à nossa juventude, buscamos temerosos
nossa face de antigamente em seu rosto;
essa ligeira liberdade, que desperdiçamos
juntamente com o nosso charme.
versão de JLBG e Juan Carlos Mellidez
a partir da tradução castelhana de György Ferdinandy,
Maria Teresa Reyes-Cortés e Jesús Tomé
NO METRO, DEPOIS DA ESTAÇÃO DO OESTE
[FÖLDALATTIN A NYUGATI UTÁN]
Próximo já do subúrbio os passageiros envelhecem,
sua face reflecte-se nas janelas sem paisagens.
São estranhos, ainda que de alguma maneira se conheçam,
como essa mulher que subiu na praça do mercado,
com os sacos de compras transbordantes de salsa
por pouco se escapa do abrigo o seu corpo magro,
é como se vestisse roupas alheias,
quiçá não me tenha visto, quiçá eu tampouco quisesse
que me cumprimentasse; assim nos recolhemos numa imaginária
indiferença, como um casal desavindo.
Estrangeiros, ainda que de alguma maneira conhecidos
são aqueles também; como se nada tivesse acontecido,
entraram desde cima — atravessando a terra —
no comboio em marcha, com calças
de linho branco e blusa estampada.
E nós, nessa meia-luz subterrânea
não compreendemos o seu resplandecente ser,
preferiríamos recolhermo-nos, se houvesse para onde,
apertando-nos, negro contra negro, esperando
o fulgor da chegada, enquanto
olhamos o nosso tempo em relógios de pulso alheios.
Já faz tempo que ultrapassaram os sessenta.
Então, esse túnel ainda não se tinha construído;
mas estes dois não se incomodam com tais bagatelas,
é como se ainda fossem a uma borga,
bebem, despem-se antecipando-se, abraçam-se
atravessando as capas das roupas e dos corpos,
e nós, que para sobreviver renunciamos
à nossa juventude, buscamos temerosos
nossa face de antigamente em seu rosto;
essa ligeira liberdade, que desperdiçamos
juntamente com o nosso charme.
versão de JLBG e Juan Carlos Mellidez
a partir da tradução castelhana de György Ferdinandy,
Maria Teresa Reyes-Cortés e Jesús Tomé
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