domingo, dezembro 02, 2007

ISTVÁN BELLA

Nasceu em 1940 em Székesfehérvar, antiga capital da Hungria. Bibliotecário, completou estudos de Língua e Literatura Húngaras na Universidade de Budapeste. Em 1965, tornou-se um dos editores do periódico Tiszta szívvel [Com Um Coração Puro]. Entre 1968 e 1970 viveu na Polónia, regressando em 1978, para ingressar no corpo editorial do semanário Élet és irodalom [Vida e Literatura]. Nos seus primeiros poemas é perceptível a influência de Attila József e de Ferenc Juhász, sendo já evidente o seu talento para moldar a linguagem através de jogos de palavras e da criação de imagens nítidas e sensuais, mesclando experiências reais e as suas próprias meditações. A partir dos anos 70, começou a explorar um estilo mais informal envolvendo elipses e um discurso mais fragmentado, mantendo-se a musicalidade sempre presente. ISTVÁN BELLA atribui poderes mágicos à linguagem, apreciando os arcaísmos, o folclore, os jogos de palavras, as aliterações e as palavras homónimas. Publicou uma dezena de livros de poesia bem como poemas para crianças. Foi-lhe atribuído o prémio Attila József por duas vezes, em 1970 e em 1986.



NOVO JULGAMENTO

[PERÚJRAFELVÉTEL]


Na questão entre Caim e Abel
até agora
ninguém
mencionou o cordeiro.

Nem sequer o Senhor!
O Juiz dos Juízes!

Porém, Ele viu o que se passou,
e poderia atestar
que Caim e Abel são permutáveis.
Abel podia ser Caim
e Caim podia ser Abel.
Mas o cordeiro,
esse é sempre o mesmo.

E o fumo sacrificial, também.

Proponho por isso o adiamento da história.
Avanço para um novo julgamento.
Mas quem deverá ser o juiz?

A vítima pode não julgar!


versão de JLBG a partir da tradução inglesa de István Tótfalusi



§



SILÊNCIO E PALAVRA

[CSÖND ÉS SZO]


Atrás de tanques, de exterminadores,
sempre vagueiam o silêncio e a sombra
de algum quem sabe quem
– vitima? culpado? –
para anotar e logo dizer
o que se passou, o que foi.
E embora o morto já viverá mais,
dir-nos-á que existiu.

Sim, sou o silêncio, e se tivesse sido
outra coisa, não seria eu!
Não sou quem cantava e respirava.
Sou a luz dependurada no arame farpado.
Sou a bolha de ar debaixo do gelo.
Sou um tartamudo que canta
no bordo da cratera de uma bomba.


versão de JLBG e Juan Carlos Mellidez
a partir da tradução castelhana de György Ferdinandy,
Maria Teresa Reyes-Cortés e Jesús Tomé




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