sexta-feira, novembro 02, 2007

ATTILA JÓZSEF (2)

Já aqui mencionei brevemente ATTILA JÓZSEF, um dos mais conhecidos poetas húngaros, filho de uma lavadeira e de um operário da indústria de sabões, nascido a 11 de Abril de 1905 em Budapeste, suicidando-se – padecendo de esquizofrenia, – numa linha de caminho de ferro em 1937, aos 32 anos de idade. A sua vida não foi propriamente invejável, visitada que foi continuamente pela fome, pela pobreza e pela solidão. Na opinião de Guillevic, József teve enquanto poeta o supremo “dom de exaltar, de elevar qualquer coisa ao nível em que a derrota se torna vitória sobre a infelicidade”. Attila József publicou o seu primeiro livro de poemas aos 17 anos. Mais tarde, “exila-se em Viena, onde vende jornais; parte para Paris, onde vive de «leite, queijo e poemas»; (…) Frequenta cursos na Sorbonne, traduz Vilon e Appolinaire. Frequenta os meios intelectuais e os exilados políticos húngaros. Regressa à pátria disposto a participar na luta pela justiça social. Toda a sua vida o torna sensível para essa luta, a sua poesia vai dar conta dessas preocupações.” A três semanas de visitar Budapeste pela primeira vez, revisito “Não Sou Eu Que Grito”, selecção e tradução de 31 poemas de Attila József da responsabilidade de EGITO GONÇALVES (Limiar, Porto, 1986), livrinho que inclui o célebre “Curriculum Vitae” redigido pelo próprio autor para solicitar um emprego (“Considero-me um homem de honra. Creio possuir uma inteligência rápida e boa capacidade de trabalho”). Na sua escrita podem reconhecer-se traços do expressionismo alemão, do surrealismo francês (e da lírica popular húngara). Como nestes dois poemas:



LEVANTA-SE AO AMANHECER COMO OS PADEIROS


A minha amada possui a cintura esbelta e firme.
Já estive num avião e de cima ela parece mais pequena
mas ainda que eu fosse piloto assim me agradaria.

Ela própria lava a roupa, a espuma sonha e treme nos seus braços,
ajoelha-se como se rezasse, esfrega o chão
e, ao acabar, ri alegremente.
O seu riso é uma maçã cuja casca morde com estrépito
e também a maçã ri, então, às gargalhadas.
Quando amassa o pão levanta-se ao amanhecer
como os padeiros, parentes dos fornos de pão suave
que vigiam com as suas longas pás.
A farinha, ao derramar-se, voa até aos seus peitos livres
onde fica a dormir tranquilamente,
tal como a minha amada no leito perfumado,
depois de esfregar
e de abraçar, até limpar completamente, o meu coração.

A minha esposa será como ela se eu crescer e amadurecer como um homem
e casar-me-ei como o meu pai.


§


DIZEM


Quando nasci tinha uma faca na mão.
Dizem: é poesia.
Mas peguei na pena, melhor ainda que a faca.
Nasci para ser homem.

Alguém soluça uma felicidade apaixonada.
Dizem: é amor.
Chama-se ao teu seio, simplicidade das lágrimas!
Só contigo eu brinco.

Não recordo nada e também nada esqueço.
Dizem: como é possível?
O que deixo cair mantém-se sobre a terra.
Se o não encontro, tu o encontrarás.

A terra me aprisiona, o mar me dilacera.
Dizem: um dia morrerás.
Mas dizem-se tantas coisas a um homem
que nem sequer respondo.

(1936)

1 comentário:

Tiago Nené disse...

Vimos fazer um convite para ser socio deste blogue:

www.bloguedasartes.blogspot.com


pretende ser um ponto de encontro dos bloggers q amam a arte.

ate ja;)

duarte e tiago