ZBIGNIEW HERBERT
SOBRE A TRADUÇÃO DE POESIA
Como um abelhão desajeitado
pousa numa flor
vergando o frágil caule
abre caminho com os cotovelos
através duma fileira de pétalas
através das folhas de um dicionário
quer chegar
onde se concentram a fragrância e a doçura
e embora esteja constipado
e sem gosto
continua a tentar
até que a cabeça choca
contra o pistilo amarelo
e não consegue ir mais longe
é tão duro
forçar a coroa
até chegar à raiz
por isso levanta voo
emerge pavoneando-se
zumbindo:
eu estive lá
e aqueles
que não acreditam nisso
olhem para o seu nariz
amarelo de pólen
(Lvóv, 29.10.1924 - Varsóvia, 28.07.1998)
SOBRE A TRADUÇÃO DE POESIA
Como um abelhão desajeitado
pousa numa flor
vergando o frágil caule
abre caminho com os cotovelos
através duma fileira de pétalas
através das folhas de um dicionário
quer chegar
onde se concentram a fragrância e a doçura
e embora esteja constipado
e sem gosto
continua a tentar
até que a cabeça choca
contra o pistilo amarelo
e não consegue ir mais longe
é tão duro
forçar a coroa
até chegar à raiz
por isso levanta voo
emerge pavoneando-se
zumbindo:
eu estive lá
e aqueles
que não acreditam nisso
olhem para o seu nariz
amarelo de pólen
Tradução de Jorge Sousa Braga
14 comentários:
Herbert foi traduzido por Rui Knopfli e publicado no n.º 2 da revista Caliban, de Lourenço Marques, em 1971.
Os poemas são: "Para Marco Aurélio", "A Galinha", "Episódio numa Biblioteca", "Coisas", "Da Mitologia" e "Três Ensaios Tendo como Assunto o Realismo". Apenas o 1º e o último não são em prosa.
Knopfli antecede os poemas com um texto introdutório, intitulado "Traduzir (?) Zbinew Herbert", q começa com o seguinte parágrafo: "Traduzir poesia da própria língua original constitui risco saldado, a mor das vezes, em resultados que mal resgatam trabalho e suor postos no empreendimento. Traduzi-la em segunda mão aproxima-se muito já de certas travessias do ignoto, praticadas em plena treva."
Pois. Em todo o caso, quem fica a ganhar é a poesia portuguesa. Ao lermos, por exemplo, "Da Mitologia" não nos interessa saber de onde aquilo vem, nem se coincide ou não com o original polaco (que, de qualquer modo, poucos em Portugal lêem), o que interessa é que Knopfli acrescenta ao cânone da poesia portuguesa um grande poema. Para mim, Z. Herbert é um poeta inglês, por absurdo que possa parecer.
Gostei do poema, porém não sei a quem devo parabéns: se ao autor ou ao tradutor.
não conhecia o poeta 8o traduzido)... e vê-lo vertido para português acrescenta-me a verdade de o ver mais de perto...
Este poema também foi traduzido pelo Herberto Helder e publicado em "Doze Nós numa Corda". Não tenho aqui o livro, mas creio que é o texto que abre o volume.
Excelente.
um blog que aprecio, onde gosto de relaxar e ler para aprender. Já agora, porque o nosso blog também é maioritariamente poesia, gostava que acrescentasses ao rol de blogues amigos (do ambiente poético).
vai ao mariapernilla.blogspot.com
boas deambulações poéticas.
Já tinha lido, penso que aqui, um outro poema dele...
É sempre um prezer renovado, estar aqui...
Um abraço ;)
Muito lindo! Adorei seu blog!
Linkei no meu "Justale Momentos", blog onde publico minhas fotos para ilustrar minhas poesias. Espero que goste! :)
http://www.justale.com.br/momentos
Grande abraço
...ignipott was here!
ignipott.blogspot.com
Não conhecia e como gostei!
Essa sua nova vida de empresário está a deixá-lo com pouco tempo para isto! Veja lá, que o povo está a ficar desnutrido de poesia!
delicia ter encontrado este blog
que poema fantástico. fabuloso!!!
um abraço
jorge vicente
Conheci-o através de um extra de um documentário com a Ana C. E essa foi minha primeira leitura de um poema seu. Ótima introdução.
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