(actualizado)
(este post é para José Miguel Silva)
NATASHA TRETHEWAY nasceu em 1966 em Gulfport, Mississippi, numa época em que o casamento interracial de seus pais era considerado crime naquele estado. No certificado de nascimento, no espaço destinado a ser preenchido com a raça da mãe, surge a expressão "colored", e no do pai, um americano branco nascido na Nova Escócia, surge a expressão "Canadian". O poema "White Lies", de Natasha Trethewey - escritora que pertence à mais jovem geração de poetas norte-americanos, - plasma num tom inocente a atitude adolescente de uma rapariga mestiça, filha de pai branco e mãe negra, portanto, mas suficientemente clara para conseguir "passar por branca" numa sociedade subjugada pelo enorme peso do racismo. Nathasha Tretheway vive em Atalanta, onde é professora associada de Inglês e de Escrita Criativa na Emory University. O seu primeiro livro de poesia "Domestic Work" (Graywolf Press, 2000), recebeu o prémio Cave Canem, em 1999, o prémio do Mississippi Institute of Arts and Letters, em 2001 e o prestigiado Lillian Smith Award for Poetry, em 2001. A sua segunda colecção de poemas "Bellocq's Ophelia" (Graywolf Press, 2002), recebeu o prémio do Mississippi Institute of Arts and Letters, em 2003, e foi finalista do prémio da Academy of American Poets' James Laughlin e do prémio Lenore Marshall, tendo sido nomeado em 2003 para Notable Book by the American Library Association. A sua terceira colecção de poemas intitula-se "Native Guard", e saiu em 2006 na editora Houghton Mifflin.
WHITE LIES
The lies I could tell,
when I was growing up
light-bright, near-white,
high-yellow, red-boned
in a black place,
were just white lies.
I could easily tell the white folks
that we lived uptown,
not in that pink and green
shanty-fied shotgun section
along the tracks. I could act
like my homemade dresses
came straight out the window
of Maison Blanch. I could even
keep quiet, quiet as kept,
like the time a white girl said
(squeezing my hand), Now
we have three af us in this class.
But I paid for it every time
Mama found out.
She laid her hands on me,
then washed out my mouth
with Ivory soap. This
is to purify, she said,
and cleanse your lying tongue.
Believing her, I swallowed suds
thinking they'd work
from the inside out.
§ (tradução colectiva Poesia Ilimitada)
MENTIRAS BRANCAS
As mentiras que eu contava,
enquanto crescia
luminosa, quase-branca,
muito clara, ossos rubros
num lugar de negros,
eram só piedosas mentiras.
Eu podia facilmente dizer à malta branca
que vivíamos na alta da cidade,
não naquela área cor-de-rosa e verde
de vergonhosas cabanas e tiroteios
NATASHA TRETHEWAY nasceu em 1966 em Gulfport, Mississippi, numa época em que o casamento interracial de seus pais era considerado crime naquele estado. No certificado de nascimento, no espaço destinado a ser preenchido com a raça da mãe, surge a expressão "colored", e no do pai, um americano branco nascido na Nova Escócia, surge a expressão "Canadian". O poema "White Lies", de Natasha Trethewey - escritora que pertence à mais jovem geração de poetas norte-americanos, - plasma num tom inocente a atitude adolescente de uma rapariga mestiça, filha de pai branco e mãe negra, portanto, mas suficientemente clara para conseguir "passar por branca" numa sociedade subjugada pelo enorme peso do racismo. Nathasha Tretheway vive em Atalanta, onde é professora associada de Inglês e de Escrita Criativa na Emory University. O seu primeiro livro de poesia "Domestic Work" (Graywolf Press, 2000), recebeu o prémio Cave Canem, em 1999, o prémio do Mississippi Institute of Arts and Letters, em 2001 e o prestigiado Lillian Smith Award for Poetry, em 2001. A sua segunda colecção de poemas "Bellocq's Ophelia" (Graywolf Press, 2002), recebeu o prémio do Mississippi Institute of Arts and Letters, em 2003, e foi finalista do prémio da Academy of American Poets' James Laughlin e do prémio Lenore Marshall, tendo sido nomeado em 2003 para Notable Book by the American Library Association. A sua terceira colecção de poemas intitula-se "Native Guard", e saiu em 2006 na editora Houghton Mifflin.
WHITE LIES
The lies I could tell,
when I was growing up
light-bright, near-white,
high-yellow, red-boned
in a black place,
were just white lies.
I could easily tell the white folks
that we lived uptown,
not in that pink and green
shanty-fied shotgun section
along the tracks. I could act
like my homemade dresses
came straight out the window
of Maison Blanch. I could even
keep quiet, quiet as kept,
like the time a white girl said
(squeezing my hand), Now
we have three af us in this class.
But I paid for it every time
Mama found out.
She laid her hands on me,
then washed out my mouth
with Ivory soap. This
is to purify, she said,
and cleanse your lying tongue.
Believing her, I swallowed suds
thinking they'd work
from the inside out.
§ (tradução colectiva Poesia Ilimitada)
MENTIRAS BRANCAS
As mentiras que eu contava,
enquanto crescia
luminosa, quase-branca,
muito clara, ossos rubros
num lugar de negros,
eram só piedosas mentiras.
Eu podia facilmente dizer à malta branca
que vivíamos na alta da cidade,
não naquela área cor-de-rosa e verde
de vergonhosas cabanas e tiroteios
ao longo do caminho. Podia agir
como se os meus vestidos caseiros
tivessem saído directamente da vitrine
da Maison Blanche. Podia até
ficar calada, deixar-me estar,
como daquela vez em que uma miúda branca
como se os meus vestidos caseiros
tivessem saído directamente da vitrine
da Maison Blanche. Podia até
ficar calada, deixar-me estar,
como daquela vez em que uma miúda branca
(apertando-me a mão) disse, Agora
temos três como nós nesta classe.
Mas paguei por isso de cada vez
que a Mamã descobriu.
Ela punha-me as mãos em cima,
depois lavava-me a boca
com sabão de Marfim. Isto
é para purificar, dizia ela,
e limpar a tua língua mentirosa.
Acreditando nela, eu engolia espuma
pensando que ela trabalharia
temos três como nós nesta classe.
Mas paguei por isso de cada vez
que a Mamã descobriu.
Ela punha-me as mãos em cima,
depois lavava-me a boca
com sabão de Marfim. Isto
é para purificar, dizia ela,
e limpar a tua língua mentirosa.
Acreditando nela, eu engolia espuma
pensando que ela trabalharia
de dentro para fora.
COMENTÁRIO: na tradução da expressão "white lies" perde-se o jogo entre "mentira (acerca da cor da pele) branca" e "mentira piedosa". Alertado por Luis Maia Varela, optei por em diferentes momentos do poema, - título e final da primeira estrofe, - usar as duas possibilidades de tradução para que não se perdesse nenhuma.
COMENTÁRIO: na tradução da expressão "white lies" perde-se o jogo entre "mentira (acerca da cor da pele) branca" e "mentira piedosa". Alertado por Luis Maia Varela, optei por em diferentes momentos do poema, - título e final da primeira estrofe, - usar as duas possibilidades de tradução para que não se perdesse nenhuma.
2 comentários:
Caro J. L. Barreto Guimarães,
Continuo fiel ao seu blog. É sempre estimulante lê-lo, quer pelos seus comentários, quer pelos poetas que vai dando a conhecer.
Permita-me, porém,que lhe ponha uma dúvida: na tradução do poema de hoje, V. quer mesmo dizer "brancas mentiras"? É que uma "white lie" é aquilo a que nós chamamos uma "mentira piedosa".
Cordialmente,
Luís Maia Varela
Texto curioso. Tradução piedosa.
Até já.
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