quinta-feira, janeiro 25, 2007

Dialogos poéticos: BOCAGE & ALEXANDRE O'NEILL

BOCAGE (1765-1805)


[MAGRO, DE OLHOS AZUIS, CARÃO MORENO,]

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deiades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.




ALEXANDRE O’NEILL (1924-1986)


AUTO-RETRATO


O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada…)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse…


2 comentários:

Alves Bento Belisário disse...

É sempre com imenso prazer que visito este lugar.
Obrigado por este lugar de poesia.
Pena é que não venha cá mais vezes.

Permite-me a ousadia de te convidar a visitar o meu blog.
Se achares por bem tecer qualquer apreciação, será com muito gosto que a receberei.

Abraço

http://correntesdepoentropia.blogspot.com

Movimento Pela Net Mais Barata disse...

Obrigado pelo poema.
Devemos reflectir sobre o queremos ser e qual seja a ideia que o outros tenham de nós.
Nós contruimos o nosso proprio auto-retrato e somos responsaveis por ele.