Setembro 15, Sábado, Dia 5
9 h 40 m
Percorro a 68, ao início da manhã. Passa um homem apressado a conversar para um fio. Os cães passeiam senhoras, e um grupo de rapazes judeus discute amenamente, usando aquilo à cabeça.
Abandono a Delicatessen debicando um cacho de uvas: ninguém toma o pequeno-almoço sentado? À porta de uma brownstone, na escadaria de ferro, uma miúdita loira vende limonada e bolinhos.
Páro para uma fotografia mas alguém atravessa a lente:
“Boy, I don't wanna be in that picture."
De súbito, ouve-se um ruído: o motor de um avião. A rua inteira queda estática, estirando o pescoço para trás. É um jacto comercial que divide o céu ao meio.
Parámos a vê-lo a avançar por detrás dos arranha-céus. Interrogamos o seu curso, as nossas hipóteses de fuga, ao levá-lo com o olhar às portas de Nova Iorque.
O polícia suspira de alívio.
12 h 10 m
"This conflict was begun on the timing and terms of others; it will end in a way and at an hour of our choosing."
Há frases que ganham a História. Pelo poder das palavras, pela oportunidade. O dom de comunicar é um trunfo, em política.
Já muitos se haviam revisto no seu "make no mistake". Mas quando o presidente clamou, sobre escombros, "I can hear you", perguntei-me se o moveu o apoio aos voluntários mais que o transmitir esperança à alguma vítima, sob ruínas.
19 h 30 m
Os canais de televisão insistiram no apelo. Desçi à rua pelas sete, a hora combinada. Nas esquinas das avenidas cada um ergueu sua vela.
Muito tempo para o silêncio. Fala-se só o essencial.
Um pouco por todo o lado há memoriais às vítimas. Em cada espaço público, à porta dos hospitais.
E milhares de velas, a arder. O riso, no rosto das vítimas.
Paris deixa que esta noite, seja esta a Cidade-luz.
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