Visitei hoje Tormes pela segunda vez. Jacinto e Zé Fernandes acabaram de chegar de Paris – na leitura que a Teresa está a fazer de “A Cidade e As Serras”, - e vão agora mesmo começar a percorrer numa égua e num jumento, o íngreme caminho que vai da estação de caminho de ferro de Tormes-Aregos até Vila Nova, a escalada de 350 metros conhecida como "O Caminho de Jacinto". De modo que nos pareceu bem aproveitar o dia de sábado para contextualizar a leitura desse romance póstumo de Eça de Queiroz (1845-1900), visitando a pequena localidade no Douro que sustenta o adágio de que não poucas vezes a literatura se impõe à realidade: Tormes, enquanto tal, não teve existência real até o nosso cônsul em Paris ter decidido dar esse nome à localidade de Vila Nova no referido romance, inspirado ao que se crê no topónimo da localidade espanhola onde se terão apeado indevidamente parte das malas de viagem que José Maria trouxe da Cidade-Luz. Muito grande é o escritor que consegue rebaptizar uma localidade já depois de morto.
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Há seis anos atrás, a convite do Professor Arnaldo Saraiva no âmbito do Congresso Portugal – Brasil, Ano 2000, já havia visto como um pouco abusiva a decoração das divisões da casa (hall de entrada, sala de estar, biblioteca, quarto) com os móveis de que Eça terá feito uso em Paris. Mas, tal como condescende a excelente investigadora Laura Castro, no livro “Viajar com… Eça de Queiroz” (Edições Caixotim, 2003), na Casa de Tormes é interessante ver “com a devida e necessária distância, aspectos da atmosfera de Eça escritor. É certo que o ambiente é outro (…); no entanto, é a eles que podemos ainda agarrar-nos para imaginar o espaço da criação queiroziana.”
Entrar no espírito do nosso maior romancista pode passar então, por exemplo, por admirar a escrivaninha onde Eça escrevia de pé, em Paris; saborear o famosíssimo “arroz de favas”; ou adquirir um casal de garrafas de vinho verde branco “Tormes”, de cor citrina, e aroma e sabor frutados, produzido e comercializado pela Fundação Eça de Queiroz. Finalmente, dizer como Jacinto: “um vinho fresco, esperto, seivoso, e tendo mais alma, entrando mais na alma, que muito poema ou livro santo.”
Á vossa!
1 comentário:
Un buen link de poesía mexicana
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