Como eu estava a dizer, há dois meses atrás, pareceu-me muito interessante aquele poema de Manuel de Freitas, “Martha”, incluído no livrinho “O Coração de Sábado à Noite” (Assírio & Alvim, 2004), por tão ousadamente, numa aparente homenagem a Tom Waits, desafiar a noção de poema. Aqui segue outro texto, outro exemplo, que encontrei este Verão, do americano E. ETHELBERT MILLER (Nova Iorque, 1950), que explora igualmente o limiar e o limite do que pode ser o real conteúdo de um poema.
ANOTHER LOVE AFFAIR/ANOTHER POEM
it was afterwards
when we were in the shower
that she said
“you’re gonna write a poem about this”
“about what?” I asked
§
ANOTHER LOVE AFFAIR/ANOTHER POEM
it was afterwards
when we were in the shower
that she said
“you’re gonna write a poem about this”
“about what?” I asked
§
OUTRO CASO/OUTRO POEMA
foi mais tarde
quando estávamos no chuveiro
que ela disse
"ainda vais escrever um poema sobre isto"
"sobre o quê?" perguntei
3 comentários:
e cito-o:
"um dia passa chega outro depois outro e sempre temos
alguma coisa a saber uns dos outros: alguma coisa"
Às vezes somos
só nós
os três.
Tu
Eu
e a tua bicicleta
Às vezes tenho ciúmes
da maneira como as rodas
viram e giram
Da maneira como as tuas mãos
seguram o volante
quando partes
E. Ethelbert Miller, versão de manuel a. domingos
Há poemas que nos deixam... sem palavras. Apenas com um sorriso. Este é sem dúvida um deles.
Simples.
Bonito.
Vou "Roubá-lo" para o meu canto... e por isso deixo um obrigada. ;)
[Parabéns por este espaço que visito com regularidade.]
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