segunda-feira, maio 08, 2006

W. B. YEATS

(actualizado, tradução colectiva)

WILLIAM BUTLER YEATS (1865-1939)




THE LAKE ISLE OF INNISFREE (1892)
Ouvir o poema, dito por William Butler Yeats

I will arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and wattles made;
Nine bean rows will I have there, a hive for the honeybee,
And live alone in the bee-loud glade.

And I shall have some peace there, for peace comes dropping slow,
Dropping from the veils of the morning to where the cricket sings;
There midnight's all a-glimmer, and noon a purple glow,
And evening full of the linnet's wings.

I will arise and go now, for always night and day
I hear the water lapping with low sounds by the shore;
While I stand on the roadway, or on the pavements gray,
I hear it in the deep heart's core.


§


A ILHA DO LAGO DE INNISFREE

Erguer-me-ei e partirei já, e partirei para Innisfree,
E uma pequena cabana erguerei lá, de barro e vime feita:
Nove renques de feijão aí terei, uma colmeia de obreiras e
Viverei sozinho na ensurdecedora clareira.

E aí terei uma certa paz, porque a paz vem lentamente,
Caíndo dos véus da manhã, até onde o grilo canta;
Onde a meia-noite é trémula, e o meio-dia é roxo brilho,
E a noite, de asas de pardais se completa.

Erguer-me-ei e partirei já, porque sempre noite e dia
Oiço a água do lago a folhear murmúrios na rebentação;
Quando vou por estradas, ou por passeios cinza,
Oiço-a no lúmen profundo do coração.



13 comentários:

Vasco Pontes disse...

deste gosto bastante

Anónimo disse...

Ora até que enfim, grandes poetas!!!! Herculano Lage

Anónimo disse...

"Grandes poetas", com 1 metro e oitente (ou mais...)

ruialme disse...

Parece-me um poema de tradução difícil e que não soa muito bem em português, sobretudo a 1ª estrofe. Sinto o mesmo na tradução de José Agostinho Baptista, editada pela Assírio. Será da conjugação dos verbos no futuro?
De qualquer modo parece-me q traduzir "build" para "içar" fica um bocado mal; bem sei q se podem equivaler, mas "içar" sugere-me mais guindastes, à primeira leitura e penso q também as conotações imediatas de uma palavra devem ser tomadas em conta numa tradução

Anónimo disse...

maravilhosia "heronia"!!

Nuno Gouveia disse...

Sem dúvida, um poema com raizes muito fortes à lingua inglesa.
compreendo "içar" tendo em conta o uso do verbo erguer no primeiro verso da estrofe. se pensarmos nas alternativas tradutórias "içarei" satisfará melhor tal reticencia.
Além disso, depois de uma cabana não penso logo em guindastes, sem ironia ao comentário do Rui, que me pareceu bastante cuidado e só por isso comento.
Abraço.

Anónimo disse...

daqueles poemas que de momento não consigo analisar por si próprios, porque fico a viajar dentro deles.

Vida Involuntária disse...

Breves coincidências:
Yeats nasceu a 13 de Junho, assim como Fernando Pessoa e Joaquim Manuel Magalhães.
Eugénio de Andrade escolheu para partir o 13 de Junho de 2005.

Quanto ao poema -de uma enorme qualidade - e à tradução, parece-me que a forma verbal "içarei", embora "in limine" possa dar um certo desconforto "harmónico", acaba, pelo menos na minha leitura, por nos transportar para uma reflexão interessante: O sujeito poético "iça" a cabana como um signo, um sinal, uma bandeira, de solidão fecunda em companhia e inter-acção com a "paz da natureza sem gente";- cf. Caeiro (cito de memória) -, pois está farto do "passeio cinzento" e quer a comunicação, "o coração", a genuinuidade.
Logo o "içarei" acaba por ser mais produtivo.

A minha dúvida é se hoje, 2006, e mais daqui a algum tempo, só vamos poder encontrar esta comunicação salvífica com a natureza, nos poemas dos grandes poetas do passado...

Anónimo disse...

Ah! Yeats!

Eu gosto desta versão do JLBG. Digo versão porque traduzir Yeats, apesar do cliché da impossibilidade de traduzir fielmente do inglês, é MESMO uma tarefa difícil. Gosto sobretudo de algumas opções como na última estrofe o "lago folheando" (brilhante!) e "lúmen".

Apontava só que "linnet" (Carduelis cannabina) corresponde ao nosso pintarroxo, embora em muitos dicionários apareça como "pardal". É necessário apontar isto, porque o pintarroxo é avermelhado, e joga com o "roxo" do verso anterior. A sugestão das cores, neste poema, parece-me essencial, não apenas porque "innisfree" (inis fraoigh) quer dizer "ilha da urze" (e o roxo é a cor das urzes), mas porque o brilho das cores é a maior sensação de quem passa da cidade para o campo, e vive nele (como eu tive a ousadia de fazer). É claro que se se usar "pintarroxo" já não se pode usar antes um "brilho roxo" sem cacofonia.

Há tempos tentei traduzir este poema de Yeats. Procurei apenas simplicidade, como quem muda da cidade para o campo, e repetir em português a música coloquial do original, que me parece ter sido um dos grandes objectivos de Yeats. A minha versão não é grande coisa, e hesito em deixá-la aqui. Hesito porque não queria criar discussões de valor, mas apenas contribuir com a minha leitura do poema. Não resisto somente porque The Lake Isle of Innisfree é um dos meus poemas favoritos.

Se eu soubesse o que sei hoje, tinha roubado a palavra "lúmen" ao JLBG! Acho que a única coisa que se aproveita do que fiz é que "renques", um vocábulo rural, repete "rows"; "alas" parece-me demasiado bélico ou clássico para o espírito de regresso-ao-simples do poema:

Aí vai:

A ILHA DO LAGO INNISFREE

Agora vou levantar-me e partir, partir para Innisfree, /
E erguer uma pequena cabana, feita de barro e de sebes - /
Terei nove renques de feijão, uma colmeia para as abelhas, /
E viverei sozinho entre o grande zumbido das clareiras. /

E ali vou ter alguma paz, porque a paz cai ali lentamente, /
Cai dos véus da manhã onde os grilos cantam - /
E ali a meia-noite é reluzente, o meio-dia um brilho púrpura, /
E a tarde está repleta com as asas dos pintarroxos. /

Agora vou levantar-me e partir, porque seja noite ou seja dia /
Eu oiço a água a bater com rumores nas margens - /
Enquanto estou nas estradas, ou nos pavimentos cinzentos, /
Oiço-a no centro profundo do meu coração. /


(c) formol (B.I. 9557737), 2006.

Vida Involuntária disse...

Interessante versão, embora o pintarroxo tenha um soar algo burlesco cujo canto não me seduz. Até fui reler a trad. citada atrás do JAB.
Só queria aduzir que para além do homem ser irlandês, a simplicidade não quer dizer essencialidade.
"William B. Yeats interessou-se pelas questões místicas e as práticas ocultistas ao longo de toda a vida.
(...)
Yeats criou uma chave interpretativa para a sua poesia, na forma de um sistema de símbolos e diagramas, que conjuigam elementos astrológicos e herméticos com o pensamento de Platão, William Blake, Böeme e Swedenborg"
(..)
in "Uma Visão" de W. B. Yeats,Relógio d'Água,Lisboa,1994.

Anónimo disse...

Ei! e o diabo dos pintarroxos?!

Eh pá, se há razão para um neologismo, é hoje e agora! Eu proponho "lineto". Há-que construir a realidade...

Lineto, s.m. (Carduelis cannabina).
1. nome poético do Pintarroxo, denominação vulgar de uns pequenos pássaros conirrostros, granívoros, da fam. dos Fringílidas, sedentários e muito comuns em Portugal. Idêntico a tentilhão, pimpalhão, pimpim, milheirinha, peito-vermelho, chinco, serrazina, etc.;
2. Expressão introduzida em português pela necessidade de traduzir "linnet" da voz poética inglesa.

Anónimo disse...

Ok. deu-me para um poema muito arriscado:

LINETO.

1. Lineto, s.m. Do latim: carduelis cannabina; /
2. O Lineto é o nome poético do Pintarroxo; /
3. É o pássaro que enche de tarde uma ilha de Yeats. /
4. "lineto" é o m. q. "LineTo", /
A função que alguns especialistas de código, /
Na metafísica dos computadores, /
Utilizam para desenhar uma linha, /
entre dois pontos especificados; /
5. O Lineto é o passado e o futuro de qualquer pássaro. /

*wickedlizard* disse...

um dos meus poetas preferidos....