domingo, abril 23, 2006

JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE - 2



Hoje gostava que conversassemos acerca deste poema de João Miguel Fernandes Jorge (Bombarral, 1942), retirado de “Porto Batel”, o segundo título da sua obra poética, disponível na Editorial Presença, em “Obra Poética, Volume 1”, Lisboa, 1987.


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Depois de ter falado toda a manhã
com um estranho acerca daquela anónima
cabeça de rapaz do século dezasseis

sinto que é de matéria breve que
tenho composto todos os meus objectos
todos ordenados à vida e sem aquela

alegria que devemos encontrar
no que tentamos reduzir ao tempo.
Uma só hora daquela cabeça não
caberia em toda a manhã

porque ela é lisa como vidro
e nenhuma dissertação de arte
a poderá tornar densa e as suas ideias
essas somos nós que

as fabricamos.



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