MARTÍN LÓPEZ-VEGA nasceu em Llanes, Asturias, em 1975. Licenciado em Filología Espanhola pela Universidade de Oviedo, estudou literatura portuguesa na Universidade do Minho e obteve a bolsa Valle-Inclán da Academia de Espanha em Roma, en 1999. Crítico literário e tradutor, tem numerosos livros de poesia publicados. A arte poética que se segue foi traduzida do castelhano por Jorge Sousa Braga para o Poesia Ilimitada, do blogue de Martín López-Vega Rima Interna.
O CRÍTICO E OS POETAS
O verdadeiro poeta está só. Os que andam em manada são o coro.
É impossível que um poeta aceite uma crítica de um libro seu como construtiva. A única coisa que o poeta quer é construir o seu ego e os andaimes do seu ego: uma corte de aduladores o mais numerosa possível.
Para o poeta não há críticos que tenham encontrado defeitos no seu livro: só críticos que não conseguiram compreender a sua riquíssima complexidade.
Tudo se pode dizer de outra maneira, mas não existe nenhuma que não seja susceptível de ser interpretada de forma retorcida. A não ser que se diga “Isto é uma maravilha” ou “Isto é uma merda”...
Citar é retirar do contexto. Se um verso descontextualizado soa ridículo é porque já era ridículo no seu contexto.
Qualquer um com o mínimo de talento pode ridicularizar qualquer coisa; mas há coisas que se ridicularizam a si mesmas.
Se um crítico lê algo que lhe parece um disparate, deve dizer que lhe pareceu um disparate, embora correndo o risco de se expor a mostrar que não percebeu nada. Se o poeta decidiu publicar os seus disparates, porque iria autocensurar-se o crítico.
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Se numa crítica alheia um amigo te anima a ver insultos encobertos, desconfia do crítico só depois de teres desconfiado do amigo
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Nunca insultes o crítico que te colocou reparos: ele sentirá que lhe estarás outorgando uma medalha.
O critério do crítico-poeta não pode ser ler, estudar, incensar os livros que se pareçam com os seus, sob pena de se converter num bonsai: se lê apenas aquilo que lhe é familiar, nunca crescerá. Mas isso tão pouco quer dizer renunciar ao sentido crítico. Nem tudo é bom apenas por ser diferente, embora tudo o que é redundante seja sempre mau.
O mau poeta entretém-se com aquilo que considera a sua voz, faz trinados como uma cantora de ópera antes de sair de cena. O poeta verdadeiro morrerá procurando essa voz, tratando em vão ignorar que é o silêncio.
Qualquer crítica literária é ideológica. A primeira sintonia (ou a falta dela) que o crítico sente com um livro tem a ver com a sua visão do mundo e a sua atitude perante ela. Nesse primeiro encontro violento tem a sua origem o resto do diálogo do crítico com o texto.
…
Tenta ser boa pessoa e bom crítico. Mas não mistures as duas coisas. Se como crítico és boa pessoa encher-te-ão a casa de livros com versos horríveis. Se como pessoa és bom crítico, ficarás só.
Não abuses da ironia: as pessoas pouco inteligentes não têm sentido de humor e a maioria delas transformam-se em poetas.
Não confundas os leitores de poesia com os poetas. Por muito que digam que não, os primeiros são muitos mais e é para eles que escreves. Nem uns nem outros te cobrirão de glória, mas ao menos os primeiros não te darão cabo da paciência.
Um crítico que nunca foi insultado é um crítico que nunca acertou em nada.
04/03/2013
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