
Gosto da claridade penumbrosa
de adolescentes indecisos.
Gosto deles assim lentos
inaptos, vorazes, sedentos
do labor meticuloso e da
antiquíssima sabedoria de outras mãos.
Anjos devastados, senhores do caos
é para longe que partem.
O primeiro dos vinhos, bebido
da ânfora para a boca, alerta-os -
regressam agora às palavras e
aos gestos de antigamente.
Cumprem-se no jogo.
E ninguém suspeita de nada.
§
Mais do que uma casa era um refúgio
forrado de livros, gravuras e mesmo
alguns retratos. O fragor do mar
não colidia com o canto da lareira
e a impaciência de Xavier, o siamês.
Rimbaud andou por lá, voando nas dunas,
os pescadores extasiados
do seu perfil motorizado. Havia quem
roubasse amoras para o serão
e os que em sigilosas noites
chegavam a coberto das escarpas
do Porto Batel. A casa
continua lá, habitada pela memória desolada
de quem partiu. O quintal abriga
peregrinos, o vento, vegetação rasteira
e o jogo ardiloso de dois amantes.
§
Está um rapaz a arder
em cima do muro,
as mãos apaziguadas.
Arde indiferente à neve que o encharca.
Outros foram capazes
de lhe sabotar o corpo,
archote glaciar.
Nunca ninguém apagou esse lume.
1 comentário:
Caro João Luís, vi agora a entrada que me dedica. Bem haja!
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