W. H. AUDEN nasceu em 1907, em York, tendo falecido em 1973, em Kischtetten, perto de Viena. Viveu em Inglaterra até 1938, convivendo com Louis MacNeice e Stephen Spender, entre outros, ano em que emigrou para os Estados Unidos, onde conheceu o seu companheiro Chester Kallman, e obteve a cidadania americana, convertendo-se ao cristianismo. Em 1959 foi nomeado professor de poesia em Oxford. A editora Assírio & Alvim publicou em 1994, uma antologia de poemas de Auden que José Alberto Oliveira intitulou de “O Massacre dos Inocentes”, a partir do título de um dos poemas que traduziu, “For The Time Being”. Também a Relógio d’Água editou em 2003, o belíssimo “Outro Tempo”, com tradução de Margarida Vale de Gato. Já aqui havia trazido ao Poesia Ilimitada um poema de Auden de que gosto muito, “Funeral Blues”; não é esse porém o meu poema de eleição do poeta anglosaxónico, antes “Musée des Beaux Arts”, do qual tento aqui uma tradução.
MUSÉE DES BEAUX ARTS
About suffering they were never wrong,
The Old Masters: how well they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.
In Brueghel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water, and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.
MUSÉE DES BEAUX ARTS
Acerca do sofrimento, nunca se enganaram
Os Velhos Mestres: quão bem entenderam
A condição humana; como está presente
Enquanto alguém se alimenta ou abre uma janela ou monotonamente segue a caminhar;
Como, enquanto os velhos esperam apaixonada e reverentemente
Pelo miraculoso nascimento, deve sempre haver
Crianças que não queriam especialmente que acontecesse, patinando
Num lago na orla da floresta:
Nunca esqueceram
Que até o mais terrível martírio deve seguir o seu curso,
Custe o que custar, a um canto, nalgum lugar descuidado
Onde os canídeos acorrem em suas vidas de cão, e o cavalo do torturador
Coça seu inocente traseiro por detrás de uma árvore.
No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo se afasta
Ociosamente do desastre; o lavrador poderá
Ter ouvido o splash, o grito desamparado,
Mas para ele não era um importante fracasso; o sol brilhou
Como soía sobre as pernas brancas que desapareceram na verde
Água; e o frágil e grandioso navio que deve ter avistado
Algo espantoso, um rapaz caindo do céu,
Tinha um destino para ir e afastou-se calmamente.
Ter ouvido o splash, o grito desamparado,
Mas para ele não era um importante fracasso; o sol brilhou
Como soía sobre as pernas brancas que desapareceram na verde
Água; e o frágil e grandioso navio que deve ter avistado
Algo espantoso, um rapaz caindo do céu,
Tinha um destino para ir e afastou-se calmamente.
2 comentários:
Falta (pelo menos...) referir, quanto às traduções de Auden em Portugal, a q Jorge de Sena fez de "O Massacre dos Inocentes", publicada no nº 4 da revista Árvore e, depois, em "Poesia do Século XX", junto de outros dois poemas.
Formidável. Tenho verdadeira devoção por Brueghel, genial pintor-filósofo. "A Queda de Ícaro" é realmente um espanto; o personagem quase passa despercebido em meio à simultaneidade de tudo; uma representação comum quase eliminaria o cenário, focando a atenção na queda desesperada. Mas isso seria pouco para Brueghel e suas quase-parábolas visuais.
Abraço.
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