terça-feira, maio 12, 2009

RYSZARD KRYNICKI

(actualizado)RYSZARD KRYNICKI (Sankt Valentin, Áustria, 1943), poeta polaco, tradutor e editor. Publicou o seu primeiro livro em 1968. Traduziu Brecht, Trakl e Celan, entre outros. É um dos poetas da Geração de 68 (com Stanisław Barańczak e Adam Zagajewski), profundamente inspirados pela convicção de Czesław Miłosz da responsabilidade do poeta pela palavra. Para além da forte dimensão politica da sua obra, os poetas da Nova Onda punham grande ênfase na renovação da linguagem, desafiando os automatismo da leitura e introduzindo na poesia polaca o cliché, a frase feita, fragmentos de artigos de jornal ou formulários burocráticos. Os 4 poemas que se seguem são versões minhas de poemas incluídos no livro “101 [6 poetas polacos contemporáneos]”, selecção e prólogo de Maciej Ziętara com tradução do polaco para castelhano de Maciej Ziętara e Maurício Barrientos, RIL Editores, Santiago do Chile, 2008.



SUAVE E SILENCIOSAMENTE

Para Jan Lebenstein


Tememos demasiadas doenças incuráveis,
terramotos, viagens repentinas,
telegramas atrasados – e um olhar, cravado
na nuca –

mas a seu tempo tudo isso vem,
sem grande pressa – e sem atrasos -,
exactamente quando chega a hora,

nem sempre de forma definitiva,

suave e silenciosamente,
sem deixar pegadas na paisagem
movediça

como a hora de partida do comboio
ou uma ida ao cinema


§


PARTICIPANDO


«Participando na grande lotaria
do Centro de Saúde da Criança
comemoras os 2.000.000 de crianças
que caíram em combate ou foram brutalmente
assassinadas durante a II Guerra Mundial.
Levas ajuda e alívio
ao sofrimento de milhares de crianças
incapacitadas e doentes.
Cumpres com uma nobre e honrosa
obrigação cívica.
Obténs a oportunidade
de ganhar um prémio, tal como
automóveis Fiat 125p e 126p
tractores C-330, televisores,
rádios, frigoríficos, máquinas de coser,
máquinas de lavar,

e outros atractivos prémios».


§


NÃO SABIA



A caminho da escola
podia ver cada dia,
erguido sobre a cidade, um quartel
prussiano: não sabia
que durante a guerra ali trabalhou,
como médico militar, o poeta Gottfried Benn.
Não entendia muito de doenças

excepto de poesia.


§


ESTÃO LIVRES


- Estão livres – disse o guarda –
e fecha-se o portão de aço

agora deste lado.


2 comentários:

joana disse...

meu deus, que bonito, que bonito!
há livros destes senhor? que vontade de ler mais!

bruma do tempo disse...

Muito bons- Será o belo e o horrível, os efeitos de uma guerra no futuro de crianças que um dia hão de ser adultos marcados por esses mesmos acontecimentos. Gostei muito.