terça-feira, maio 12, 2009

BOHDAN ZADURA

(actualizado)
BOHDAN ZADURA (Pulawy, 1945), poeta polaco, ficcionista, ensaísta, tradutor, estudou filosofia na Universidade de Varsóvia. Foi director literário do Teatro da Visão e Movimento de Lublin e co-editor de revistas literárias. Influenciado não tanto pela poesia intelectual e erudita de Zbigniew Herbert - mais pelo mundo poético de Miron Białoszewski, - tal como este interessava-lhe mais a província, os subúrbios, os bairros periféricos de Varsóvia, a cultura kitsch da zona onde a cidade colidia com o campo, afirmando que o único compromisso da poesia é com a linguagem, defendendo a experiência individual ante os intentos unificadores dos diferentes dispositivos do poder. A influência dos poetas da Escola de Nova Iorque (Ashbery, Kock e O'Hara) é perceptível na poesia de Zadura, como aliás numa significativa parte dos poetas polacos pós-1989. A vida individual com toda a sua riqueza temática, os ritos do quotidiano, a família, são os mundos poéticos que informam a sua poesia. Os 3 poemas que se seguem são versões minhas de poemas incluídos no livro “101 [6 poetas polacos contemporáneos]”, selecção e excelente prólogo de Maciej Ziętara, com tradução do polaco para castelhano de Maciej Ziętara e Maurício Barrientos, RIL Editores, Santiago do Chile, 2008.



FRENTE


O tempo estava confuso
A hora imprecisa Acercava-se
chuva ou tempestade No éter
ouviam-se estalidos Apesar
das dificuldades não perdíamos
a conexão com o mundo

As ordens eram claras
Tínhamos que sorrir


§


***


A vida erótica da cidade
concentra-se nas suas zonas
erógenas

Este é o principio dado pelos deuses
gratuitamente Uma fila da cidade
e uma fila do corpo Desde as pontas
dos dedos desde o interior das mãos
até aos túneis de metro os arcos dos viadutos

e as pedras arrancadas com as unhas
das ruas empedradas

Antigamente – diz-me uma voz – o mistério
vivia nos templos Agora
só nos restam
estações e aeroportos

Nos cruzamentos
acendem-se semáforos
vermelhos

Um amigo
com uma covinha encantadora
no queixo
repara
cada situação
interpessoal
pode converter-se numa situação
erótica

A rua afoga-se
e morre de enfarte


§


UMA TARDE DE DEZEMBRO



Pela janela do comboio
vi um letreiro que dizia:
PARQUE INTERNACIONAL DA PAZ
E DA AMIZADE DOS POVOS
CEMITÉRIO MILITAR

no escaparate de uma livraria
vi um livro
Profecias e augúrios
sobre o fim do mundo e o bem para a Polónia

venho de uma família
de doentes da cabeça

um favor, América:

não poderias
cumprir os teus mitos
em tua casa?


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