VICTORIANA
para a Ana Maria e o Rafael
O silêncio e a temperatura dos museus
permeiam toda a cidade. A quantos serviram
estas velhas casas? Hoje são montras de antiqualhas,
folhas roubadas ao calendário da mocidade inglesa
de 1890. Caixas de tabaco, tinteiros de louça,
leques ilustrados com danças de estilo e figuras.
Melhor ou pior, toda a gente desperdiça
a sua vida.
Entretanto o dia acaba a meio da tarde
porque é Dezembro. A esta hora os autocarros
já vão cheios de gente para os arredores, Sydenham,
Whitnash, South Farm, onde as estradas anoitecem
entre casas geminadas e os corvos sobrevoam os quintais
dos imigrantes. Certos sentimentos podem de repente
viciar as cores do mundo. Vêem-se cercas, antenas
e tabuletas, tudo coisas úteis às complicações
do escuro que nos pertence, que sempre
nos pertencerá.
Rui Pires Cabral nasceu a 1 de Outubro de 1967 em Macedo de Cavaleiros. Licenciou-se em História e Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1990. Vive em Lisboa onde trabalha como tradutor de inglês. "Victoriana" foi extraído - com a devida vénia - do seu livro "Praças e Quintais", Averno, Lisboa, 2003
para a Ana Maria e o Rafael
O silêncio e a temperatura dos museus
permeiam toda a cidade. A quantos serviram
estas velhas casas? Hoje são montras de antiqualhas,
folhas roubadas ao calendário da mocidade inglesa
de 1890. Caixas de tabaco, tinteiros de louça,
leques ilustrados com danças de estilo e figuras.
Melhor ou pior, toda a gente desperdiça
a sua vida.
Entretanto o dia acaba a meio da tarde
porque é Dezembro. A esta hora os autocarros
já vão cheios de gente para os arredores, Sydenham,
Whitnash, South Farm, onde as estradas anoitecem
entre casas geminadas e os corvos sobrevoam os quintais
dos imigrantes. Certos sentimentos podem de repente
viciar as cores do mundo. Vêem-se cercas, antenas
e tabuletas, tudo coisas úteis às complicações
do escuro que nos pertence, que sempre
nos pertencerá.
Rui Pires Cabral nasceu a 1 de Outubro de 1967 em Macedo de Cavaleiros. Licenciou-se em História e Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1990. Vive em Lisboa onde trabalha como tradutor de inglês. "Victoriana" foi extraído - com a devida vénia - do seu livro "Praças e Quintais", Averno, Lisboa, 2003
4 comentários:
Vejo-me vergonhosamente forçado a admitir que, apesar de conhecer alguns dos seus parentes. Teve de ser um dos meus professores da universidade, em Aveiro, a apresentar-me este autor, meu conterrâneo.
Blogue fixe
Será desta? É mesmo o RPC na fotografia?
Desta vez é mesmo ele: as feições puxam às do pai. Não há como enganar.
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