Outro dos livros que a
Limiar publicou - este em 1991 - de poetas húngaros foi “
Três Poetas Húngaros – LAJOS KASSÁK,
JÁNOS PILINSZKY e
SÁNDOR KÁNYÁDI”, com tradução de
Egito Gonçalves, em colaboração com
Zoltán Rózsa.
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O poeta e pintor
LAJOS KASSÁK (1887-1967), personagem de uma vida fascinante e difícil, está representado nesta recolha com o poema longo “
O Cavalo Morre, Os Pássaros Levantam Voo”, onde são claramente perceptíveis influências futuristas, dadaístas e expressionistas (“
no fundo as árvores são raparigas grávidas / que sussurram entre si e dizem: / se ele se vai embora suicido-me”);
JÁNOS PILINSZKY (1921-1981), nascido em Budapeste de mãe alemã e pai polaco, vê a sua poesia marcada pela “
experiência da deportação para campos de concentração alemães (…). Existencialista, dá de si mesmo a imagem de um homem frágil permanentemente ameaçado com uma visão apocalíptica e severa do mundo (…) A sua poesia caracteriza-se, quanto à escrita, por um laconismo que não exclui a extrema densidade, disciplina formal e uma arte singular de unir o mais exacto ao mais enigmático.”
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Onde eu queria chegar era a este terceiro nome,
SÁNDOR KÁNYÁDI (1929-), sacerdote, “
consciência viva dos dois milhões e meio de húngaros na Roménia, que foram humilhados e ofendidos na sua dignidade nacional por decénios (…). A sua poesia é substancial, essencial, sem ornamentos, pura e reduzida ao mínimo necessário para poder exprimir, através do seu sofrimento, o sofrimento do seu povo, a dor de todos os torturados, vencidos e humilhados de todos os tempos." Eis três poemas, com a devida vénia.
EXISTEM LUGARES
existem lugares onde
os súperfluos
nascituros cães e gatos
são afogados
ou enterrados vivos
mas sempre antes
de abrirem os olhos
mas sempre antes
de abrirem os olhos
§ÚLTIMA ORAÇÃO DO VELHO
dai-me a coragem para que eu possa
pôr a corda ao pescoço
dai-me depois força Senhor
para o último salto
ámen
§POEMAS ESCRITOS NA UNHA
Chuva de arame farpado.
Os céus
baixaram-se ao nosso nível.
Haverá garganta
para gritar mais tarde
o que agora calamos?
Engole a tua língua!
Com ela podes saciar-te:
mas somente uma vez.
Domingo de Ramos.
Burro temos, mas, de Cristo,
não temos o espírito.
Ó provincianismo!
Também Mefistófeles, de pé espalmado,
é funcionário público.
Cuidado com o passado!
Ele pode embebedar-te, nunca te saciará.
2 comentários:
bonito o "existem lugares"...
Adorei esse poeta. Simples, forte.
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