domingo, março 18, 2007

JUAN LUIS PANERO

JUAN LUIS PANERO (Madrid, 1942) é autor de uma das obras poéticas mais interessantes da poesia espanhola da última metade do século XX. Vive em Girona desde 1985. Conheci a sua obra através das traduções de Joaquim Manuel Magalhães, designadamente através do livro “Poemas” (Relógio d’Água, Lisboa, 2003), e ocorreu-me cotejá-la com a poesia de Frank O’Hara mas em Panero, as frequentes alusões “culturais”, chamemos-lhes assim, à volta das quais se constroem muitos dos seus poemas, além de não serem tão obsessivamente explicitas quanto ao espaço e ao tempo como em O’Hara, não resultam em pedantismo na demonstração do vivido, antes constituem o argumento próximo para uma ideia maior que se desenvolve (vida, amor, viagem, desilusão, morte), numa escrita inteligente e limpa, linear e pragmática, que foge da abstracção como Pound e os imagistas fugiram. É evidente que no poema de Juan Luis Panero, “Um Velho em Veneza”, a presença de Ezra Pound – para além da explicita homenagem – não passa de um pretexto para depositar por excrito no poema duas ou três verdades sobre a vida. Com a devida vénia:


UM VELHO EM VENEZA

Em Veneza, velho e envelhecido, quase mudo,
rodeado de livros, de solidão, de gatos,
o poeta Ezra Pound,
falou, num breve, muito breve encontro, com Grazia Livi.
Comentou-lhe, sem autocompaixão e sem desprezo,
secamente, com voz entrecortada:
«No fim penso que não sei nada.
Não tenho nada para dizer, nada.»
Se depois de tão alto exemplo, de tão clara sentença,
ainda continuo a escrever e risco palavras no fumo,
não é, que a morte me livre,
por bastardo interesse ou absurda vaidade,
mas apenas por uma simples razão,
porque não conheço outro meio, a não ser o suicídio
- desnecessário é um poema como um cadáver -,
para dar testemunho de nada a ninguém,
do mundo que contemplo, desta vida,
do seu horror gasto e quotidiano.
Que o velho Pound, na sua cova,
me perdoe por ligar o seu nome
a estas sórdidas palavras desesperadas.



2 comentários:

vague disse...

É um prazer conhecer, pela mão de um poeta português q admiro, a poesia de q gosto e q conhecia. Obg.

vague disse...

perdão,
"e q desconhecia"