Em "Falésias" (Teatro de Vila Real, 2006), através de sequências narrativas quase cinematográficas, Jorge Gomes Miranda (Porto, 1965) evoca uma vez mais a experiência individual para diagnosticar tempos colectivos (“este tempo fantasma”), não abrindo mão, porém, do “instante de beleza / erguida pelo tempo no vazio”. Sob epígrafe de grandes clássicos da Ópera que encimam o sujeito lírico destes poemas como sábios cicerones que pairassem, é de novo o roteiro do amor (porém “o inverno do amor”) quem convoca o poeta para a escrita. E se o pendor narrativo destes poemas nos enleia por vezes por cenários realistas, arriscando literariamente como poucos (“também somos aquilo a que dizemos não”), um súbito golpe de linguagem recoloca-nos sempre, e ainda, nos domínios da poesia. Por prosaicos que possam parecer, há sempre nestes poemas “um verso / que nos atinge no meio da escuridão”.
GIULIO CESARE, GEORG FRIEDERICH HAENDEL
"Se pietà di me non senti”
(Magdalena Kožená).
Uma toalha verde e amarela
sobre o extenso areal da praia.
A leve sombra das nuvens na água.
Um caderno com as folhas
viradas pelo vento.
As primeiras palavras
de uma canção lenta, patética
subindo de um transístor
encostado ao azul da mochila.
Os seios desenhados delicadamente
sob o fato de banho branco.
A tua voz.
Moradas onde o homem,
depois da hipótese do nada,
se recompõe.
GIULIO CESARE, GEORG FRIEDERICH HAENDEL
"Se pietà di me non senti”
(Magdalena Kožená).
Uma toalha verde e amarela
sobre o extenso areal da praia.
A leve sombra das nuvens na água.
Um caderno com as folhas
viradas pelo vento.
As primeiras palavras
de uma canção lenta, patética
subindo de um transístor
encostado ao azul da mochila.
Os seios desenhados delicadamente
sob o fato de banho branco.
A tua voz.
Moradas onde o homem,
depois da hipótese do nada,
se recompõe.
1 comentário:
Muito mau. Eu se fosse ao tal Miranda nem publicava isto. Poeteiros por poeteiros já basta o que basta.
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