quarta-feira, janeiro 31, 2007

ATTILA JÓZSEF

ATTILA JÓZSEF (1905-1937) viveu apenas 32 anos, tempo suficiente porém para se ter tornado um dos mais importantes poetas húngaros do século XX. Nascido em Budapeste, filho de mãe lavadeira e pai operário da indústria de sabões, tem um curriculum impressionante de miséria, fome e dificuldades de vária ordem. A sua poesia é muitas vezes reflexo disso mesmo, com influências desde o expressionismo alemão ao surrealismo francês, num tom - a melhor parte das vezes - amargo. Guillevic escreveu a seu respeito: “Ele tem o dom de exaltar, de elevar qualquer coisa ao nível em que a derrota pessoal se torna vitória sobre a infelicidade.Egito Gonçalves – quem mais? – traduziu e editou na sua Limiar, a antologia “Não Sou Eu Que Grito”, onde fui roubar este poema. Coisa sem moldura penal, roubar poesia...



AÍ ESTÁ O SALDO FINAL



Confiei em mim desde o primeiro momento.
Custa muito pouco ser dono do vento.

E à besta não lhe é mais custosa
a vida, até que a lançam à fossa.

Nasci, amei, fui longe, fiz o resto.
Com medo, às vezes, mantive-me no posto.

Paguei sempre as dívidas contraídas
e agradeci, com as mãos estendidas.

Se fingida mulher aqui e além me quis,
amei-a, para que pudesse ser feliz.

Fiz cordas, varri, dei-me ao vinho
e entre os espertos fingi-me cretino.

Vendi brinquedos, pão e poesia,
jornais e livros: o que se vendia.

Não morrerei enforcado em fácil trama
ou em grande batalha, mas na cama.

Vivi (já está aí o saldo final):
Muitos outros morreram deste mal.


5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo espaço tenho lido coisas muito interessantes

Santiago Santos

http://www.cadillac-obsceno.blogspot.com/

Yousseph Igor disse...

Adorei seu blog
bons poetas e boa poesia

Henrique Fogli disse...

Muito boas suas poesias! Obrigado por trazê-las ao mundo!

Daniel Ferreira disse...

grande espaço aqui tens. este poema está excelente! foi um prazer descobrir este blog!

Unknown disse...

Cheguei aqui por acaso e me surpreendi. Voltarei mais vezes. Adorei as poesias.
Um abraço