ONÉSIMO TEOTÓNIO DE ALMEIDA (Pico da Pedra, S. Miguel, Açores, 1946) é um dos melhores cronistas da língua portuguesa. Estudou em Lisboa, e vive desde 1972 nos Estados Unidos. Doutorado em Filosofia pela Brown University, é Professor Catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University, Providence, Rhode Island. Do seu livro “Viagens na Minha Era, Dia-Crónicas” (Temas e Debates, Lisboa, 2001), retirei a crónica (proema?) “Perde-se na Tradução”:
PERDE-SE NA TRADUÇÃO
Dia de regresso. Fizera as malas e pedira à recepcionista do hotel que mas guardasse até à tarde; quando terminasse a aula passaria lá a caminho do aeroporto. Chego ao carro e dou com uma garrafa de aguardente da Graciosa oferecida na véspera por um amigo. Volto a correr ao hotel e, apressadíssimo, tento pedir à recepcionista que ma ponha junto às malas para eu depois arrumar. Ao menos era essa a intenção, mas as palavras devem-me ter saído num jacto incompreensível. Muito sorridente e com graciosa vénia a senhora disse-me: «Olhe, muito obrigada! É muito gentil. Mas não precisava fazer nada disto…»
Faltou-me a coragem de tirar a máscara de hóspede gentil e agradecido.
PERDE-SE NA TRADUÇÃO
Dia de regresso. Fizera as malas e pedira à recepcionista do hotel que mas guardasse até à tarde; quando terminasse a aula passaria lá a caminho do aeroporto. Chego ao carro e dou com uma garrafa de aguardente da Graciosa oferecida na véspera por um amigo. Volto a correr ao hotel e, apressadíssimo, tento pedir à recepcionista que ma ponha junto às malas para eu depois arrumar. Ao menos era essa a intenção, mas as palavras devem-me ter saído num jacto incompreensível. Muito sorridente e com graciosa vénia a senhora disse-me: «Olhe, muito obrigada! É muito gentil. Mas não precisava fazer nada disto…»
Faltou-me a coragem de tirar a máscara de hóspede gentil e agradecido.
Sem comentários:
Enviar um comentário