quarta-feira, outubro 04, 2006

EDOARDO SANGUINETI

EDOARDO SANGUINETI, poeta, romancista, dramaturgo e ensaista italiano, nasceu em Génova em 1930. Segundo Egito Gonçalves, “na sua pena tudo parece ser experiência, análise, intuição, dissecação meticulosa e fria; linguagem estridente e provocadora, ácida, difusa e confusa, corrosiva, por vezes grotesca, itinerário autobiográfico; comenta os acontecimentos do mundo que o cerca enovelados no banal quotidiano, parecendo no entanto, frequentemente, puro jogo linguístico.” Os quatro poemas que se seguem - e que trazem à memória a poesia de Frank O'Hara, - foram traduzidos por Egito Gonçalves e publicados na revista LIMIAR, n.º2, de 1993. Com a necessária vénia:


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com um polvo que obriga a quatro horas de cozedura (o peixeiro não o bateu
convenientemente), muda-se uma refeição completamente: tenho a receita de uma maionese
provençal, mas contaminada com alho):
quanto às manchas simétricas dos frutos
desaparecem como se nada fosse, quase, realmente, se os esfrego com força,
apenas, com uma luva de espuma macia, molhada em água quente, e se Sylvie me passa a ferro
as calças para as secar:
sei bem que estou muito apresentável, eu, mesmo se
me apresento em slip de algodão: (mas falemos agora um pouco de Gramsci, que é melhor,
e da revolução cultural italiana):
(e cada palavra que diremos será gravada em fita):


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falemos, por favor, dos prazeres da vida, por uma vez (disse eu
à mulher de Van Rossum, na segunda-feira às 11 horas): (que é alemã de Munique,
realmente, com menos de 30 anos, creio, branca de pele como clara de ovo): e o primeiro
prazer é o de penetrar, evidentemente: e depois, para mim, dormir ao sol (como dormia agora,
disse eu, antes de ela chegar: torso nu como podia ver, e pés
descalços, etc.): e o terceiro é beber vinho (francês, se possível, como aquele
que bebemos no sábado com Berio, e também na sexta-feira em Roterdão e aqui):
(e concluí que o paraíso será penetrar ao sol, talvez encharcados de Saint-Emilion):


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Ensinei aos meus filhos que o pai foi um homem extraordinário: (poderão
contá-lo assim a qualquer um, um dia, se o quiserem): e depois que todos
os homens são extraordinários:
e que de um homem sobrevivem, não sei,
pelo menos umas dez frases, talvez (juntando tudo: os tiques,
os ditos memoráveis, os lapsos):
e isso nos casos afortunados:


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um húngaro de nariz torto (excelente poeta, segundo parece) interrogou-me
no meio da noite, em plena Terrazije, dizendo: como fizeste, tu, para não ter
enlouquecido? (porque dizia que eu tenho todo o ar de um Artaud): e eu respondi, então:
mas as mulheres ajudam-nos um pouco:
estava de acordo (embora tenha logo precisado
que tinha sido homossexual, e que agora não praticava nada):
(ajudam-nos com a sua loucura,
precisamente, se aquela espécie de reedição descoberta por uma Elisa tinha razão,
lá em cima, no gabinete de Politika, ela que me tinha deixado dizendo: diverte-te e ama):

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6 comentários:

paulo disse...

O seu blog devia ser declarado de serviço público.

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá João

Acabei de conhecer este "espaço" fantástico! saí daqui sabendo muito mais.

Voltarei:)

Se me quiser visitar estou no "Fragmentos"

Um beijo

Anónimo disse...

Site muito interessante. Vale bem a visita. Passarei por aqui.

Alves Bento Belisário disse...

A Poesia agradece. E eu subscrevo!!!

Rui Alberto disse...

excelente blog, que passarei a visitar com frequência.
continuação de um bom trabalho, espero mais leituras para breve.

Mauro Pereira da Silva disse...

Sem dúvida um genio da palavra. Abraço cordial