Setembro 19, Quarta-feira, Dia 9
20 h 45 m
A perspectiva que se tem aqui sobre o que ocorreu há uma semana atrás é provavelmente muito diferente da do resto do mundo. O que verdadeiramente importa para quem vive a cidade são as histórias pessoais e cada um dos dramas vividos. Aquele funcionário da Cantor Fitzgerald, por exemplo, está vivo para contar que o vício matinal o atrasou para um último cigarro; as duas colegas, melhores amigas entre si, não: faleceram separadas, cada uma a bordo de um dos voos desviados.
Por mais que o mundo reaja, temos aqui uma cidade parada. Como uma página suspensa, a vontade estagnada.
Porque há gente desaparecida. Não é morta: é desaparecida.
21 h 10 m
Leio jornais on-line, no Memorial.
Enquanto a Europa se esforça por entender a situação, na vida nova-iorquina ainda não houve alma para tanto. Reconhece-se o engenho pérfido dos terroristas. Percebe-se que a acção terá sido auto-financiada.
Mas para já não há muito tempo para doer isso. Porque a dor maior é aqui. A perda maior é aqui.
21 h 40 m
Hoje, depois do bloco, desci com Pablo a Union Square, para visitarmos outro memorial às vítimas. Tal como em Washington Square são incontáveis as bandeiras, os apelos, os poemas, desordenadamente arrumados por entre ramos de flores.
Reparo que a vingança não é o tom mais inscrito. Antes, a reprovação e a revolta, que se recriam na ironia:
"New York City is the closest to paradise that any terrorist will ever get".
22 h 00 m
Começo, pelas piores razões, a reconhecer algumas vítimas. Encontro-as por todo o lado. Como se fossemos conhecidos.
Scott O'Brien, por exemplo, parece ser um tipo bem divertido. Aliança a brilhar no dedo, idade à volta dos trinta. Trabalhava no 101º piso. Conheci-o em Canal Street.
Mary Lou Hague, da Keffe, Bruyette & Woods, face de porcelana, cabelo castanho curto. Teria pouco mais de vinte. Cruzei-me com ela na Broadway.
Ninguém sabe de Laura Rockfeller. Foi vista no último piso.
Eu não esqueço um rosto belo: estava ontem na Village.
20 h 45 m
A perspectiva que se tem aqui sobre o que ocorreu há uma semana atrás é provavelmente muito diferente da do resto do mundo. O que verdadeiramente importa para quem vive a cidade são as histórias pessoais e cada um dos dramas vividos. Aquele funcionário da Cantor Fitzgerald, por exemplo, está vivo para contar que o vício matinal o atrasou para um último cigarro; as duas colegas, melhores amigas entre si, não: faleceram separadas, cada uma a bordo de um dos voos desviados.
Por mais que o mundo reaja, temos aqui uma cidade parada. Como uma página suspensa, a vontade estagnada.
Porque há gente desaparecida. Não é morta: é desaparecida.
21 h 10 m
Leio jornais on-line, no Memorial.
Enquanto a Europa se esforça por entender a situação, na vida nova-iorquina ainda não houve alma para tanto. Reconhece-se o engenho pérfido dos terroristas. Percebe-se que a acção terá sido auto-financiada.
Mas para já não há muito tempo para doer isso. Porque a dor maior é aqui. A perda maior é aqui.
21 h 40 m
Hoje, depois do bloco, desci com Pablo a Union Square, para visitarmos outro memorial às vítimas. Tal como em Washington Square são incontáveis as bandeiras, os apelos, os poemas, desordenadamente arrumados por entre ramos de flores.
Reparo que a vingança não é o tom mais inscrito. Antes, a reprovação e a revolta, que se recriam na ironia:
"New York City is the closest to paradise that any terrorist will ever get".
22 h 00 m
Começo, pelas piores razões, a reconhecer algumas vítimas. Encontro-as por todo o lado. Como se fossemos conhecidos.
Scott O'Brien, por exemplo, parece ser um tipo bem divertido. Aliança a brilhar no dedo, idade à volta dos trinta. Trabalhava no 101º piso. Conheci-o em Canal Street.
Mary Lou Hague, da Keffe, Bruyette & Woods, face de porcelana, cabelo castanho curto. Teria pouco mais de vinte. Cruzei-me com ela na Broadway.
Ninguém sabe de Laura Rockfeller. Foi vista no último piso.
Eu não esqueço um rosto belo: estava ontem na Village.
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