segunda-feira, setembro 18, 2006

O FIM DO VERÃO DE NOVA IORQUE (8)

Setembro 18, Terça-feira, Dia 8


8 h 10 m
A capa do jornal de ontem, preenchida de nomes e apelidos. São bombeiros e polícias e autoridades portuárias. Cresce entre todos a ideia de que foram mesmo heróis.
E há nomes familiares: Acevedo e Ferrera, Bareto e Maldonado.
As sanduíches enviadas por anónimos para o Ground Zero levam inscritas no invólucro declarações de amor.


8 h 25 m
Cada página de jornal tem uma história para contar. A do Capelão Mychael Judge é assaz impressionante. Na manhã do acidente desceu com os seus bombeiros e viu um deles morrer, atingido por um corpo em queda. Retirou o seu capacete para lhe ministrar os ritos, quando foi atingido na nuca por um bloco de cimento.

(No Saint Vincents Hospital)
Debbie S. entrou de urgência com a perna em muito mau estado. Foi proposta a amputação.
Mas está por ali casualmente um cirurgião plástico, como voluntário.
“Acho que lhe consigo salvar a perna”.
É-lhe dada autorização para operar, não sendo do hospital, e ele fica a tarde toda no bloco. No final da cirurgia, parte sem se identificar.
Cá fora o noivo dela não cabe em si de contente:
"O sonho da sua vida era o baile do casamento."


16 h 32 m
Espalhados pela calçada, à frente das lojas de classe, homens da construção civil gozam a hora do almoço.
Estamos na Madison Avenue e regressaram ao trabalho por excesso de voluntários, depois de uma semana de buscas lá adiante, em Downtown.
Deleita-os o mundo feminino. Impressiona a imperfeição de seus corpos robustos e sujos, ante a fugaz aparição de uns pézinhos delicados.
Ninguém os põe fora dali. Vêm oferecer-lhes bebidas.


21 h 15
Melanie Y., 37 anos, editora na New York One:
I’m just starting to put faces on what happened”.

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