sábado, dezembro 24, 2005

THOMAS McCARTHY

Na pequena antologia de poemas sobre o tema do pai que comecei a recolher logo após Março deste ano, O Jardim da Dor, de THOMAS McCARTHY ocupa lugar de destaque, quer pela força narrativa - fluída e indeclinável, - quer pela poderosíssima imagem final que me persegue desde a primeira vez que o li. Hoje é dia 24 de Dezembro, e é também o meu primeiro Natal sem pai. Thomas McCarthy nasceu em Waterford, na Irlanda, em Março de 1954 e é autor de uma importante obra poética onde a memória, a infância, a politica e a família, coexistem – por vezes num mesmo poema – em ambiente pagão e tradicional. Participou num dos Seminários de Tradução Colectiva em Mateus, em Setembro de 1991, tendo a sua colecção de poemas, editada pela Quetzal, sido revista e apresentada por Laureano Silveira.




O JARDIM DA DOR

I
BURACO, NEVE

É uma imagem de perda irreversível,
Este buraco na campa de meu pai que precisa
Continuamente de ser cheio. Agora, todos os meses, o meu
Tio vem para repor a terra com umas pás tiradas
Ao monte que sobrou. Olhos rasos de água,
Compensa o abater do corpo do irmão.
Chego na minha motorizada para ajudar
Mas ele não partilha o peso do desgosto.

Há seis meses que o meu pai morreu
E tem que suportar a neve funda;
Toda a noite caiu, silenciosa como o tempo,
Alisando e assemelhando tudo. Visitei
A campa gelada pelo Inverno, esperando ver
Um rasto de pegadas, um milagre da neve.



2 comentários:

João Villalobos disse...

Caro João Luís,

Humildes parabéns por este seu poema, que me faz feliz por ter regressado.

João Villalobos disse...

Raios! Só percebi agora que o poema não era seu. Mas estou certo de que poderia ser :)