quinta-feira, junho 07, 2007

ZBIGNIEW HERBERT (2)

ZBIGNIEW HERBERT
(Lvóv, 29.10.1924 - Varsóvia, 28.07.1998)



SOBRE A TRADUÇÃO DE POESIA

Como um abelhão desajeitado
pousa numa flor
vergando o frágil caule
abre caminho com os cotovelos
através duma fileira de pétalas
através das folhas de um dicionário
quer chegar
onde se concentram a fragrância e a doçura
e embora esteja constipado
e sem gosto
continua a tentar
até que a cabeça choca
contra o pistilo amarelo

e não consegue ir mais longe
é tão duro
forçar a coroa
até chegar à raiz
por isso levanta voo
emerge pavoneando-se
zumbindo:
eu estive lá
e aqueles
que não acreditam nisso
olhem para o seu nariz
amarelo de pólen


Tradução de Jorge Sousa Braga


14 comentários:

ruialme disse...

Herbert foi traduzido por Rui Knopfli e publicado no n.º 2 da revista Caliban, de Lourenço Marques, em 1971.
Os poemas são: "Para Marco Aurélio", "A Galinha", "Episódio numa Biblioteca", "Coisas", "Da Mitologia" e "Três Ensaios Tendo como Assunto o Realismo". Apenas o 1º e o último não são em prosa.
Knopfli antecede os poemas com um texto introdutório, intitulado "Traduzir (?) Zbinew Herbert", q começa com o seguinte parágrafo: "Traduzir poesia da própria língua original constitui risco saldado, a mor das vezes, em resultados que mal resgatam trabalho e suor postos no empreendimento. Traduzi-la em segunda mão aproxima-se muito já de certas travessias do ignoto, praticadas em plena treva."

JMS disse...

Pois. Em todo o caso, quem fica a ganhar é a poesia portuguesa. Ao lermos, por exemplo, "Da Mitologia" não nos interessa saber de onde aquilo vem, nem se coincide ou não com o original polaco (que, de qualquer modo, poucos em Portugal lêem), o que interessa é que Knopfli acrescenta ao cânone da poesia portuguesa um grande poema. Para mim, Z. Herbert é um poeta inglês, por absurdo que possa parecer.

Unknown disse...

Gostei do poema, porém não sei a quem devo parabéns: se ao autor ou ao tradutor.

inominável disse...

não conhecia o poeta 8o traduzido)... e vê-lo vertido para português acrescenta-me a verdade de o ver mais de perto...

Rui Manuel Amaral disse...

Este poema também foi traduzido pelo Herberto Helder e publicado em "Doze Nós numa Corda". Não tenho aqui o livro, mas creio que é o texto que abre o volume.
Excelente.

odeusdamaquina disse...

um blog que aprecio, onde gosto de relaxar e ler para aprender. Já agora, porque o nosso blog também é maioritariamente poesia, gostava que acrescentasses ao rol de blogues amigos (do ambiente poético).
vai ao mariapernilla.blogspot.com
boas deambulações poéticas.

Menina Marota disse...

Já tinha lido, penso que aqui, um outro poema dele...

É sempre um prezer renovado, estar aqui...

Um abraço ;)

Alessandra Colla Soletti disse...

Muito lindo! Adorei seu blog!

Linkei no meu "Justale Momentos", blog onde publico minhas fotos para ilustrar minhas poesias. Espero que goste! :)
http://www.justale.com.br/momentos

Grande abraço

ignipott disse...

...ignipott was here!

ignipott.blogspot.com

hfm disse...

Não conhecia e como gostei!

Sigma Gamma disse...

Essa sua nova vida de empresário está a deixá-lo com pouco tempo para isto! Veja lá, que o povo está a ficar desnutrido de poesia!

Palavra Alada disse...

delicia ter encontrado este blog

jorge vicente disse...

que poema fantástico. fabuloso!!!

um abraço
jorge vicente

Escobar Franelas disse...

Conheci-o através de um extra de um documentário com a Ana C. E essa foi minha primeira leitura de um poema seu. Ótima introdução.