domingo, março 19, 2006

JORGE MELÍCIAS


Jorge Melícias nasceu em 1970. Publicou "Ahagahe" (Coimbra, A Mar Arte, 1994), "A Um Deus De Olhos De Graça" (Coimbra, A Mar Arte, 1995), "O Tempo de Foaron" (Coimbra, A Mar Arte, 1998), "Iniciação ao Remorso" (Coimbra, A Mar Arte, 1998), "A Luz Dos Pulmões" (Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2000), "O Dom Circunscrito" (Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2003) e "Incúbus" (Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2004).

Traduziu, entre outros, Saint-John Perse, Leopoldo María Panero e António Gamoneda. Do seu livro "A Luz Dos Pulmões", seleccionei este poema:


[O poema são fogueiras levantadas na garganta] (2000)

O poema são fogueiras levantadas na garganta
ou um sono inclinado sobre as facas.

Alguém diz, a prumo
todos os nomes queimam,
e há uma deflagração assombrosa,

a palavra acende-se
com uma árvore de sangue ao centro.

36 comentários:

clarinda disse...

João Luis Barreto Guimarães

Gosto da sua postura neste confronto de ideias com Jorge Melícias acerca da novíssima poesia portuguesa.

No entanto, os exemplos que deu como amostra do que de melhor se faz em poesia, penso que são absolutamente redutores do conceito de poesia.

Anónimo disse...

Só uma nota para indagar de Laerce o que é que distingue um comentário de uma opinião.

Anónimo disse...

...E já agora, indagar também se Laerce tem mais alguma coisa a dizer além da nota de discordância.

Anónimo disse...

Concordo absolutamente consigo, Rui Lage. Melícias, Freitas, outros, não fazem nada de novo, troca palavras, constroi frase que nem ele mesmo sabe o que significa. Poemas destes, vou ali já venho. "Poemas são fogueiras levantada na garganta"!!!?? - o que é isto??? Olhem, mudem para isto, que invento já aqui um poema: "Poemas são flechas que acentuam catedrais ventosas" - Digam lá: grande verso, hem!! Por favor ...demorou 3 segundos, querem mais??' Olhem para outra poesia, por favor!!! Onde está a desnsificação poética da essencialidade?? Há que intensificar um projecto. Herculano Lage

Anónimo disse...

Ok. Também tenho um rápido:

FOLHA POÉTICA:

Depois de o empregado ter surgido
da cave/Com o meu bloco de papel milimétrico,/Fui beber um café e escrevi um poema novo./

Estranhamente rimava a cada centímetro,/e as vírgulas caíram sozinhas/de 6 em 6 centímetros.

Concluí que há um deus dos versos/No fundo da Papelaria Fernandes.

Anónimo disse...

o foi nada disso que disseram nem o Barreto, nem o Lage.Leiam bem.
Para além disso, concordo com o Rui, nas tais questões do risco e outras.Como igualmente com o João. Já estamos fartos de "deflagrações", "prumos"., "fogueiras na garganta". E as pessoas, supostamente leitoras e "escribas do "poético", ainda têm a lata de negar que isso são imagens mais que estafadas e já tomadas, de há muito, por poetas "marcantes, que esses sim, as "marcaram". E há um nome para chamar aos pósteros que se não afastam dos prognos.

Lydia

Anónimo disse...

Errata:
Não saiu o início do comentário que referia:
Freitas e Melícias nada têm a ver um com o outro. Andam aqui confusões. Nem Barreto, nem Lage disseram isso.

Anónimo disse...

pelo amor da santa, leiam poesia... deixem-se de caganças... e disfrutem das palavras... não consigo perceber estes pseudo-intelectuais... palavras sãp palavras... há correntes poéticas que englobam tudo...

"O pêndulo da maledicência compactua com a construção caótica do sublime" (esta é minha - poderá ou não ter sentido... como diz Pessoa "sentir, sinta quem lê!" haha)

Cada pessoa é a interpetação do poema, cada pessoa é um poema, é "o" poema... a palavra entra em nós, em nós ressoa e em nós faz (ou não sentido), é ou não sentida... e atenção que não é preciso fazer sentido, para que seja sentida!

Anónimo disse...

POESIA - PALAVRAS -SENTIDO, não são absolutos, nem deuses inquestionáveis.Precisam como dizia Camões de "honesto estudo" com "amarga experiência misturado".
Não são uns espontâneos armados em iluminados, que pelos vistos, já sabem tudo, que lá chegarão com facilidade.

Anónimo disse...

pois claro! :o)

Citando Eugénio de Andrade:

"Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar."

Anónimo disse...

Vinha acompanhando a conversa entre JLBG e JM e é com espanto que vejo a cordialidade que existe entre os dois a ser contaminada por gente ressabiada como o Rui Lage. Meu caro Rui Lage, conversar sobre poesia pode ter nível, sabia? Aqui ainda ninguém tinha procurado humilhar ninguém. Ao menos ninguém de respeito, como o JLBG e o JM. O tom que trouxe à conversa não é digno. Faz-me crer que deve ser um poeta genial para colocar o seu pescoço assim tão contra o dos outros.

Anónimo disse...

Realmente, esperemos que esta polémica não ameace este espaço tão tranquilo e singular. É bom podermos ler coisas novas que o JLBG vai desencantar não se sabe onde (!) e, inclusivamente, participar. Quanto ao mérito (evidente na pesquisa e no trabalho experimental) e ao crédito da "novíssima" poesia (que virá, ou não, com o tempo), acho que podemos todos ter um pouco de paciência e observar como evolui, se falsifica (como diria o outro) e gera mais coisas.

Anónimo disse...

Lá diz o O'Neil "Respeitinho é que é preciso".
O Rui Lage fez uma coerente análise, sem servilismos estratégicos e detectou vários gatos com o rabo de fora. Quem teria limado e arrumado o último texto ao sr. Melícias? A analistas experimentados e o jovem Lage, já o é, não escapam certas coisas...Ele vai tendo o tal "honesto estudo" que falta a muitos aqui. Com tanto poeta a escrever em tantas Línguas, no mundo, sejam menos pretensiosos e mais conscientes da vossa insignificância.
Força, Rui. Não te importes de ser incómodo.

DD

Anónimo disse...

Ó DD, que incómoda a Senhora está a ser! Força Rui, upa. Vá que a mamã está a ver.

Anónimo disse...

A questiúnculas à volta da poesia dão nisto: da teoria (de que se sabe pouco e que não passa de pretexto) passa-se aos nomes e com os nomes vêm os insultos, sobretudo pela mão daqueles que nada têm para dizer, mas que vive devorados pela sua própria mediocridade.

Vitor_Vicente disse...

Lage, tens razão. O Melícias, como não consegue ser falado pelos seus livros de poesia, está a tentar chamar a atenção a pregar sobre o que é e não é poesia, a dele e dos herbertinhos com h pequeno e a da Coopertiva Expresso, respectivamente.

Oh Melícias, ergue mas é uma paróquia e vende passaportes para a posteridade !

Ruy Ventura disse...

Com todo o respeito que tenho por si, caro João Luís, acho que os poemas transcritos do Gomes Miranda e do Freitas (no post anterior) não constituem risco algum. Fazem antes parte de uma estratégia de aproximação ao leitor que já não consegue entender uma metáfora porque está fossilizado por tanta banalidade que lhe é transmitida todos os dias pela televisão, pelos jornais, pelo cinema, por romances sem literatura, etc.. Quanto ao realismo, seja hiper ou não (hiper verá de hipermercado), não constitui novidade alguma nem na nossa poesia nem na poesia de todos os tempos. Que risco há, então, em escrever versos destes? Nenhum. Já Cesário fez o mesmo. Só não falou me telemóveis e em análises clínicas porque no tempo dele não havia tal coisa.
Só que Cesário fazia uma coisa que os poemas transcritos não fazem: transfigurava a realidade. Tal como depois dele fizeram Fernando Pessoa, Raul de Carvalho, Armando Silva Carvalho, José do Carmo Francisco, etc. etc.

Ruy Ventura disse...

Nisto tudo o bom é discutirmos ideias. Insultos não dignificam ninguém. O João Luís e o Rui Lage são pessoas sérias, concorde-se ou não com as suas opiniões.

Anónimo disse...

"As aves despedem-se.
Nunca fizeram outra coisa"

Este verso parece uma das parolices do Eugénio de Andrade... É do melhor que a poesia portuguesa tem para oferecer? Porra, não admira que eu só leia da Inglesa... temos a poesia entregue aos tótós.

Ruy Ventura disse...

Nisto tudo é preciso ter cuidado para não nivelarmos por baixo. É preciso, ainda, não fazermos do realismo uma arte ao serviço de qualquer outra coisa, seja essa coisa a política (como fizeram os neo-realistas) ou outra cena qualquer, por melhor intensionada. Seria muito bom para certos defensores da poesia "hiper-realista" relerem os ensaios de Ruy Belo, por exemplo, para terem consciência de que a poesia só vinga quando vai para além do circunstancialismo, quando se torna universal e intemporal. Isto não significa, claro, que retiremos dos poemas o mundo concreto em que nos foi dado viver. Não. Temos contudo a obrigação de transfigurá-lo, simbolizá-lo, etc., para que a multiplicação de sentidos se dê. Quando isto não acontece, algo de podre está a acontecer na literatura. Até pode estar a surgir um novo paradigma (como no romance, cada vez mais banal), mas é um paradigma empobrecedor e alienante, sem qualquer transcendência. Não é por acaso que o João Barrento chamou à poesia do Freita "imanente". O meu caminho é semelhante ao do García Márquez: fartas da realidade andam as pessoas; vale a pena continuar a dar-lhes, até na poesia, uma realidade tão rasteirinha? Acho que não.
Mas nisto de realidade recordo sempre um post do Rui Lage no defundo "Quartzo": será menos real uma estrela? será menos real uma angústia? Ou é preciso andarmos todos a transformar os poemas em narrativas neo-realistas? Começo a suspeitar que existem alguns poetas que são contistas frustrados, o que não é mal nenhum, desde que se assumam enquanto tal, à semelhança de Lobo Antunes que se diz "poeta frustrado".

Anónimo disse...

"Depois há que dizer que o caminho da abstracção também já foi muito trilhado: Ramos Rosa, Echevarria, Fernando Guimarães, Gastão Cruz... e também já deu o que tinha a dar. Quanto ao "real", ou à "realidade", não sei se serão para aqui chamados. O que eu escrevi foi que há lugar para diversas sensibilidades e registos poéticos, escrevem-se bons livros quer de um lado da barricada quer do outro (mas sobretudo escrevem-se bons livros ao centro, na terra-de-ninguém). Eu escrevi que "um pensamento é tão real quanto uma garrafa de vinho", que "tudo é real ou nada é real" e ainda que "o real/ é tão natural/ quanto a sua sede". O que mantenho, pois claro."

Concordo muito, menos no "já deu o que tinha a dar", já que neste século XIX penso haver lugar para tudo, inclusivamente o revalorizar de estéticas passadas, goste-se ou não.

Eu não entendo é um coisa: porque é que têm algumas pessoas tanto medo da contradição? (atenção que eu não estou a acusar ninguém)

peço desculpa por esta intromissão, vou-me já embora

Anónimo disse...

*errata: deve ler-se "século XXI" e não "século XIX". como é óbvio

Anónimo disse...

JLBG, independentemente das estéticas, do valor ou seja o que for; independentemente dos teus círculos, dos teus interesses, e das tuas estratégias que eu nunca vi explícitas (mesmo que fossem, quem não as tem?), continua PF com o blogue no espírito original: exploratório, aberto, progressivo, muito new england.

O teu método é bom, e o resto é... o resto.

Abraço.

PS: Para espantar os analistas, ainda não peguei no livro deste tipo JLBG cujo blogue admiro. Decidi viver nas montanhas (onde a arte nunca faz sentido, porque a maior arte é observar as nuvens, como dizia Goethe); mas quando voltar a Lisboa, na visita mensal, vou à livraria do King procurar as últimas luzes e folhear as orlas. Eu sou um romântico, e a impressão que me dá é que vocês todos vivem há demasiado tempo dentro do cimento e demasiado dentro do cérebro. Isso nem sempre é bom. Experimentem observar as árvores, a forma como a chuva cai, o seu movimento, o seu brilho, e depois reflictam sobre o sentido das coisas, da vida e do caneco. Alguma coisa boa há-de vir daí.

Cumprimentos para todos.

Ruy Ventura disse...

Rui,
tu próprio deste a resposta ao que perguntas: é universal o que não se prende às circunstâncias, mas parte delas para criar (imaginar, se quiseres) outra realidade, que por não estar presa se torna universal. Era o que o Ruy Belo fazia e muitos outros como ele.
É o que os cultores do tal hiperrealismo (eu chamar-lhe-ia neo-realismo recauchutado) não fazem.
Quando à poesia da abstracção (que não é tão abstracta como isso...) é ainda muito válida: basta lermos Echevarría, C. Ronald ou outros poetas que, infelizmente, ainda são muito pouco lidos.

Ruy Ventura disse...

Atenção: está lá o "tanta coisa" que introduz o vago e anula em boa parte todo o concreto que aparentemente segue; depois o "luzir" que tem a mesma função. Estas duas palavras constituem a "areia nos dentes" de que falava João Cabral, a que distingue um texto de circunstância de um texto que parte da circunstância para outros mundos.

Ruy Ventura disse...

Demarco de poemas descarados como o "Martha perdi o teu número" e outros quejandos que até podem estar a estabelecer na poesia portuguesa um novo paradigma, mas provocarão nela, se tiverem sucesso (coisa que não desejo), o mesmo que já aconteceu a muita ficção: o empobrecimento. Um empobrecimento tão grande que, daqui por alguns tempos, nada seja transfiguração, mas apenas representação do concreto, melhor ou pior conseguida.
O perigoso de tudo isto são os monopólios. Como escreves, pode haver transfiguração em vários domínios poéticos, em vários veículos de expressão. Eu não excluo poetas, mas versejos que provocam uma erosão na poesia.
Também não embandeiro em arco com certas coisinhas que por aí vão aparecendo e que muitos apresentam como inovações, renovações, etc.. Acontece-me frequentemente descobrir que ela são apenas reflexos epigonais de alguns padrinhos que, tantas vezes, se querem esconder. Ora, quando se trata de padrinhos, francamente, prefiro o original à cópia.
Mais poderia escrever, sobre aquilo a que me oponho ou de que me demarco, mas a conversa já vai longa e, com sinceridade, o que me interessa é escrever o que não posso deixar de escrever, agrade ou não aos senhores que vão constituindo a crítica bem colocada.

Anónimo disse...

Este poema de Melícias é fraquinho, fraquinho.
Um imaginário verbal mais batido do que o Caminho de Santiago, o dele. Um cocktail de vozes alheias, a isso se resume este poema, ou seja: 4 versos de Eugénio de Andrade + 3 de Herberto Helder.
Ao menos podia ter ido copiar coisas mais longínquas, que é o que fazem os poetas de maior talento. Mas para isso era preciso ter lido essas coisas longínquas. Só que os "poetas" tipo Melícias não têm tempo para ler. Ou só lêem até aos 20 anos, os preguiçosos. E por isso ficam a vida toda amorosamente agarrados aos poetas da sua adolescência, num doce enlevo de naif imitação.
Mas disto - "a poesia" - não há-de vir mal ao mundo, e se o Melícias está convencido de que escreve poemas, deixá-lo estar. É totalmente inofensivo, e se há adjectivo que se possa aplicar à esmagadora maioria dos poetas, é esse: inofensivos. Muito pior faz a programação televisiva dos canais portugueses, e com isso ninguém se indigna. A televisão sim, é um verdadeiro massacre intelectual.

Anónimo disse...

Muito obrigado pelas referências de novos poetas, caro Rui Lage... irei procurá-los quanto antes!

cumprimentos

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

Nice colors. Keep up the good work. thnx!
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Anónimo disse...

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José Leite disse...

Melícias trilhar "novos caminhos"? Até me trilha a alma!!!
Trilhar, trilho eu (e mais uns poucos...) fazendo novos trilhos nas veredas do futuro. Mas, como trilha... meu Deus!...

Rouxinoldebernardim@blogspot.com

Anónimo disse...

Sr. Lage

Acho que realmente o senhor necessita de uma dose de humildade. Talvez uma tão grande quanto à de vaidade (não justificada porém).

Não lhe vou pedir, nem muito menos implorar que o faça, mas vamos, recomendo-o a crescer um pouco, e voltar à vida quando conseguir alargar o seu mundo literário à poesia de Jorge Melícias.

Se no mundo da música existisse apenas um estilo, de certo muita gente não se conseguiria identificar com a Música em si. O mesmo se passa com a poesia.

Jorge Melícias pede compreensão exímia, e não uma interpretação de 10 segundos. Quando possuir as capacidades para levar a cabo este desafio literário, partilhe.

Vitorarezes disse...

Andam a estragar poesia... enfim... encontrei este video aqui na net e penso que nele está tudo isto muito bem explicado.

http://www.youtube.com/watch?v=apXzDueA0oc


Olha, também sou poeta! Querem ver:

"O pudor assassino das petalas quase escarlates na periclitância de um puxador, faz-me sentir azul."

Rita Barros disse...

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